Achei mas não encontrei

Um dia eu voltei e achei que havia perdido. Mas ao achar, achei que devia continuar a procurar. Quando a gente procura demais perde o faro para o verdadeiro achado. Achei mas continuei a achar que tinha perdido. Assim vasculhei gavetas, revirei armários, pus pólos contrários na mesma caixa para ver se o choque provocava uma direção segura na bússola.
Voltar para o ponto de partida. Um dia nublado que parece outro antigo, mais remoto. Um dia de sol com as faces coradas, sensação de quentura que remete à infância. Uma noite de lua a vislumbrar as sombras do céu e as vozes do mato. Uma noite escura, densa, chuvosa, a sensação de finitude a escorrer pelas calhas , pelo sinuoso assobio do vento nas janelas.
O vento que uiva no morro, as ilusões perdidas, o atalho que foi apagado pela enchente, os vestígios da tarde. Tudo cria, sim, a sensação de estarmos em busca do tempo perdido. Mas eu voltei. Achei. Porém, aventureiro, não me acostumei.

29 de maio de 2010 ,13 e 50

Comentários

Angela disse…
Ricardo,
Poesia e linda! Tem gosto de saudade: da mãe, da infância, do primeiro amor,do arrojo juvenil e de vc mesmo.
Desculpe-me a análise chula de folhetim.
Abraço,
Angela
Muito bom o texto, Ricardo. O tempo é realmente uma gangorra... e só conseguimos entrar na dança se nos movimentarmos, se nos aventurarmos.. mas não acho, como a Angela, que seja um 'arrojo juvenil'.. acho que é um voo maior, contra si mesmo.. toda poesia é um pé na bunda de toda cerca.

Abração
Vera Mendes disse…
Ai Ricardo!!! que lindo!!!
Sabe, hoje vasculhando aquelas tais gavetas encontrei sem achar ou ter procurado e quase pensei que tivesse perdido...ai que medo...bobagem...Pois é...encontrei nossos comunicados da CHAPA AMARELA onde teu nome está como vice presidente e..logo abaixo de vc sabe quem como primeira secretária? Euzinha!!!...qwue saudade

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