DUNGA ou a estética do “nóis cumpre ôrdis”

  
    A não ser que tenhamos uma Copa medíocre como a de 1994(onde o Brasil medíocre ganhou com um técnico medíocre) já sabemos de antemão que o time convocado por Dunga está fadado ao fracasso absoluto não apenas por ele não ter convocado os nossos melhores mas porque a opção dos dirigentes e dele próprio,o malfadado técnico, é apostar na estética do “nóis cumpre ôrdis”.
    O cego cumprimento de ordens é das mazelas mais devastadoras da história dessa nação desde as capitanias hereditárias, passando pelas entradas e bandeiras, pela República Velha, pelos golpes e contragolpes , pela Nova República e pela democracia libertina e venal de hoje em dia.
    Hoje somos um Dunga e 190 milhões de zangados como disse a simpática Adriana Marques no meu Facebook. Mas se somos zangados por que não fazemos nada ? simplista dizer que nada podemos fazer ou simplesmente constatarmos  que essa convocação é apenas o resultado esperado (de onde não se espera nada não vem nada mesmo como dizia o Barão de Itararé)”da mais perfeita expressão da atmosfera autoritária,tosca,burra e corporativista das instituições do futebol” como bem lembra Rodrigo Campos no mesmo Facebook aqui citado.
    Redes sociais são apenas mais umas das mídias que puderam auferir a imensa impopularidade de Dunga e seus apaniguados. Ele é daqueles técnicos burocratas e inoperantes como Parreira e Lazaroni e a razão simplista diz que ele deve ser mantido porque está vencendo.
    Ora,Dunga vence porque “vence na vida quem diz sim” como proferia outrora o Chico Buarque numa canção da peça Calabar. Dunga é o sargentão prussiano que recebe “ôrdis” que não contesta e que diz com a maior cara de pau  que não pode opinar se a ditadura foi ou não legal pra o Brasil porque ele não a viveu. Por si só essa resposta revela mais de Dunga do que toda a vã filosofia dos debates futebolísticos televisivos.
    Em um outro país um assunto como esse poderia ser irrelevante. No nosso não é porque o futebol é a alma do país, assunto tão estratégico quanto eleições presidenciais. E o que fazemos a respeito? Nada. Apenas observamos a nossa alma mãe nacional ir pra o brejo sob o comando de gente como Dunga, Ricardo Teixeira e congêneres. As cavalgaduras de tristes figuras a capitanear a derrocada.
    “Nóis cumpre ôrdis” é a frase que justifica tiro na cara de cliente de banco que usa marca-passo, facada em consumidor que encara segurança de padaria, massacre a que policiais de São Paulo submetem os motoboys e os mais humildes. “Nóis cumpre ôrdis” é a estética que dizimou indígenas, jogou negro nos fossos e os deixou morrer em navios negreiros, assassinou dissidentes políticos nos períodos de exceção.
    Sempre haverá, em qualquer segmento da vida brasileira, Dungas limítrofes a cumprirem “ôrdis”. E aos que não questionam resta o conformismo ,a alienação ou a resignação dos mansos que mugem:“foi Deus que quis”. Ora, se Deus é brasileiro quer um país feliz. E com Dunga definitivamente não dá. 

Ricardo Soares, 13 de maio de 2010

Comentários

Ricardo,

Mais uma excelente análise por aqui, dessa vez tendo o futebol como gancho para falar da sociedade brasileira. Uma pena o texto não ter tido - ao menos no espaço de comentários - a repercussão merecida.

Séculos depois, essa tal estética do cumprimento de ordens continua a ditar as regras, agora no combalido mercado de trabalho. É tanta gente fazendo "porque tem que fazer" e aceitando tudo porque "tem muita coisa pior por aí". Discursos que soam como música aos ouvidos de empresários que adoram pagar (baixos) salários a quem troca a vida pelo trabalho (a autoria deste comentários não é de um comunista, garanto).

E a quem discorda mas precisa do emprego para sobreviver, o que resta? Se adaptar àqueles que aceitam tudo e passam a competir com esses infelizes. Uma competição que, diga-se, é tudo o que os empresários gananciosos querem, pois quem está preocupado em "superar" o colega da mesa ao lado aceita trabalhar aos sábados, domingos, feriados, o dia inteiro, puxar o saco, dizer sim p/ tudo e etc, etc, etc.
Em que resultou essa estética tão bem contestada por você? Mais dinheiro no bolso de mais gente? Não! Mais rostos felizes? Não! Qualidade de vida? Muito menos!! A consequência principal aparece nas estatísticas dos centros médicos: estresse, gastrite, AVC e doenças cardíacas diagnosticadas em gente cada vez mais jovem. Há quem chame essa loucura toda de desenvolvimento, crescimento profissional, ambição positiva e outros eufemismos. Ou melhor, outras mentiras.

abraços,

Fernando Salles
Ricardo Soares disse…
Fernando. É por comentários tão legais como o seu que vale a pena continuar mantendo um blog em época de fragmentação,comunicação tão atomizada.Um comentário como esse chega a valer mais que o post. E tb ,até hj, não consigo entender a lógica dos blogs e da comunicação virtual. Posts como esse recebem poucos comentários e outros, digamos, mais inócuos se enchem de pitacos... talvez por isso as coisas tenham graça né ?? abração... é um privilégio ter vc como leitor...

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