Geraldo Anhaia Mello
a morte real e a morte virtual
Talvez tenha sido o vinho tinto tomado com culpa diante da diabetes recente. Talvez tenha sido mesmo o frio, o sono que sumiu ou a casa silenciosa com algum provável gambá passeando pelo forro.Acontece que talvez por tudo isso ou por nada disso me deu vontade de estar aqui a esta hora da madrugada, luz indireta na tela do computador, a escrever sobre Geraldo Anhaia Mello encontrado morto em seu apartamento na tarde de sábado. A notícia me pegou pós-almoço de domingo quando sons da Copa do Mundo adentravam pela sala através de e-mails de Paula Dip e Tania Celidonio. Como assim Geraldo morto se ainda semana passada recebia recados e "tuiteres" da inquieta criatura definida como Canibal ? Como assim se sexta ele emitia sinais de vida sobre a Terra nesse Facebook, completa tradução de vida virtual através da qual , cada um a seu gosto , as pessoas se expõe de menos ou demais ? E como assim se cada vez mais vivemos mais intensamente as emoções virtuais e congelamos as reais ? Fato é que nada aqui é piada de mau gosto. Geraldinho puxou o carro me deixando aquela impressão de remoto muro pichado na época do suicídio de Torquato Neto. Algum admirador,inconformado com o gesto do poeta, tascou : "PÔ TORQUATO". Aí,anos depois, Gilberto Vasconcellos escreveu uma crônica com o mesmo título talvez ilustrada pelo falecido Glauco. E na ilustração se lia num muro gráfico : "Pô Torquato".
Agora a noite é fria , passei pelo velório do Geraldinho à meia noite, sala G do cemitério do Araçá e desde a tarde pensava : "PÔ GERALDINHO". Desci do carro , vi as lanchonetes ao lado do cemitério com metade de suas lotações e ao fundo de uma delas um sujeito barbudinho devorando uma pizza lia avidamente um jornal. Quem lê tanta notícia na noite fria ? Cheguei à porta do velório , subi ao primeiro andar e diante da sala G a porta estava trancada. As salas ao lado ocupadas por mortos e seus viventes alheios à sala G trancada. Zanzei, desci, fui ao banheiro no térreo e perguntei ao funcionário do guichê : " Sala G, Geraldo Anhaia Mello, está trancada, o corpo está aí ? ". O funcionário responde : " O corpo está aí mas os familiares já foram embora". Insisti perguntando se eu não podia entrar pra ver o Geraldinho pela derradeira vez . "Não", me diz o funcionário. Inconformado subi de novo, tentei olhar pelo vidro o interior da sala G ,vi luzes lá dentro, velas decerto. Um homem magro e de bigodinho, um arremedo de indiano triste , me disse que se eu pedisse pra um funcionário eles abriam a sala. Disse que já havia tentado e fracassado mas o homem que estava num velório vizinho insistiu pra que eu insistisse. Voltei ao vidro defronte à sala G trancada e assinei meu nome numa folha sobre um pedestal. E ainda escrevi : "Pô Geraldinho". Acima do meu nome apenas o de Nóris Lima. Desci, olhei a av.doutor Arnaldo o portão fechado do cemitério e observei dois policiais conversando. Assoprei o ar frio pra ver a fumaça do meu hálito, me arrepiei ao ler no alto do prédio defronte a inscrição "Instituto do Câncer" e mais uma vez entrei no velório. O funcionário que havia me dito o "não" apreensivo me observou ao ver que eu ainda estava ali. Com jeito menti e disse que tinha chegado do Rio naquele noite e queria saber se ele não podia mesmo abrir a porta pra eu me despedir do Geraldinho. Sem a menor relutância agora ele cedeu, subiu as escadas comigo e abriu a sala G. Lá jazia. Era o Geraldinho, velas em volta ( agora não lembro se reais ou artificiais) algumas corbeilles, silêncio e um gelo sem fim. Me aproximei e deparei com um morto de mau aspecto. Terno bege, camisa amassada, gravata não combinando com nada. Passei a mão na sua testa,repeti o "PÔ GERALDINHO" e sei lá porque motivo rezei em silêncio um "pai nosso" com a mão na testa do Geraldinho que semanas antes me escrevia alegre lembrando de uma vez em que ele participou de uma noite de artistas falsos no programa Metrópolis que eu apresentava no fim dos anos 80. Que falso seria ele então naquele programa ? Pollock ? Magritte ? não sei mais. Sei que essas lembranças soaram descabidas comigo ali ao lado dele morto, rezando (talvez ele odiasse isso) e o funcionário me observando e perguntando , refererindo-se ao Geraldinho : "O que ele era ? " Ora, o que era o Geraldinho ? como responder ao funcionário curioso que julgava ter o morto alguma importância visto que nessa noite antes de mim passou ali o secretário Andrea Matarazzo que o funcionário conhecia ? Respondi atabalhoado que Geraldinho era um artista. Ou um video-artista como preferiu o frio e telegráfico necrológio da Folha. Geraldinho podia ser muito menos ou muito mais do que isso dependendo do ponto de vista. Mas como já foi dito hoje em algum lugar era um "desafinador do coro dos contentes" ou um porta-voz do inconformismo, um menestrel maldito,a latência da estupefação, a ardência do coração, o mistério que tem na alma todo celerado, uma mosca na sopa, um fiapo de manga na boca do sistema ou tantos clichês mais possam ser colocados na testa morta de um coração rebelde. Mas o mais triste senhoras e senhores, o que me causa maior estupefação e sinaliza para os novos tempos é que a morte virtual de Geraldo Anhaia Mello foi comentadíssima e homenageadíssima no seu Facebook. Uma morte virtual concorridíssima. Mas a morte real, com um frio que me queimou os dedos até dirigir de volta para casa pela Raposo Tavares, pois fiquei com a impressão da testa gelada dele em minhas mãos, a morte real era de uma solidão rodrigueana na noite fria de São Paulo. Entre a meia noite e a meia noite e meia dessa noite em que vos escrevo éramos apenas eu , o funcionário e o Geraldo a prescrutar a cidade que cada vez mais se oculta em quase holografias virtuais e cada vez encara menos a realidade. Até dos seus mortos. Que diferença entre a morte real e a virtual do Geraldinho.Mesmo que antes de mim nessa noite tenham passado várias pessoas por ali a lembrar dele, outras tantas como a fotógrafa Renata Falzoni tenham escrito sobre ele e que pela manhã compareçam ao seu enterro outras tantas pessoas não esquecerei a cena que vivi. Eu, Geraldinho e o funcionário solidário do velório. Não estou a prejulgar família nem a ninguém mas essa cena converteu esse morto bem vivo no virtual no morto real mais solitário que vi nos meus anos de vida.Nem sei se isso é triste mas sai do velório do Araçá nessa noite muito diferente do que entrei. Com a sensação de que não sei se gosto desses novos tempos. Mas com a sensação de certo dever cumprido por poder me despedir à moda antiga de um sujeito pelo qual eu tinha consideração. E que não merecia ser assim um morto real tão solitário.Só me resta desejar agora que esteja em muitas e boas companhias.
Agora a noite é fria , passei pelo velório do Geraldinho à meia noite, sala G do cemitério do Araçá e desde a tarde pensava : "PÔ GERALDINHO". Desci do carro , vi as lanchonetes ao lado do cemitério com metade de suas lotações e ao fundo de uma delas um sujeito barbudinho devorando uma pizza lia avidamente um jornal. Quem lê tanta notícia na noite fria ? Cheguei à porta do velório , subi ao primeiro andar e diante da sala G a porta estava trancada. As salas ao lado ocupadas por mortos e seus viventes alheios à sala G trancada. Zanzei, desci, fui ao banheiro no térreo e perguntei ao funcionário do guichê : " Sala G, Geraldo Anhaia Mello, está trancada, o corpo está aí ? ". O funcionário responde : " O corpo está aí mas os familiares já foram embora". Insisti perguntando se eu não podia entrar pra ver o Geraldinho pela derradeira vez . "Não", me diz o funcionário. Inconformado subi de novo, tentei olhar pelo vidro o interior da sala G ,vi luzes lá dentro, velas decerto. Um homem magro e de bigodinho, um arremedo de indiano triste , me disse que se eu pedisse pra um funcionário eles abriam a sala. Disse que já havia tentado e fracassado mas o homem que estava num velório vizinho insistiu pra que eu insistisse. Voltei ao vidro defronte à sala G trancada e assinei meu nome numa folha sobre um pedestal. E ainda escrevi : "Pô Geraldinho". Acima do meu nome apenas o de Nóris Lima. Desci, olhei a av.doutor Arnaldo o portão fechado do cemitério e observei dois policiais conversando. Assoprei o ar frio pra ver a fumaça do meu hálito, me arrepiei ao ler no alto do prédio defronte a inscrição "Instituto do Câncer" e mais uma vez entrei no velório. O funcionário que havia me dito o "não" apreensivo me observou ao ver que eu ainda estava ali. Com jeito menti e disse que tinha chegado do Rio naquele noite e queria saber se ele não podia mesmo abrir a porta pra eu me despedir do Geraldinho. Sem a menor relutância agora ele cedeu, subiu as escadas comigo e abriu a sala G. Lá jazia. Era o Geraldinho, velas em volta ( agora não lembro se reais ou artificiais) algumas corbeilles, silêncio e um gelo sem fim. Me aproximei e deparei com um morto de mau aspecto. Terno bege, camisa amassada, gravata não combinando com nada. Passei a mão na sua testa,repeti o "PÔ GERALDINHO" e sei lá porque motivo rezei em silêncio um "pai nosso" com a mão na testa do Geraldinho que semanas antes me escrevia alegre lembrando de uma vez em que ele participou de uma noite de artistas falsos no programa Metrópolis que eu apresentava no fim dos anos 80. Que falso seria ele então naquele programa ? Pollock ? Magritte ? não sei mais. Sei que essas lembranças soaram descabidas comigo ali ao lado dele morto, rezando (talvez ele odiasse isso) e o funcionário me observando e perguntando , refererindo-se ao Geraldinho : "O que ele era ? " Ora, o que era o Geraldinho ? como responder ao funcionário curioso que julgava ter o morto alguma importância visto que nessa noite antes de mim passou ali o secretário Andrea Matarazzo que o funcionário conhecia ? Respondi atabalhoado que Geraldinho era um artista. Ou um video-artista como preferiu o frio e telegráfico necrológio da Folha. Geraldinho podia ser muito menos ou muito mais do que isso dependendo do ponto de vista. Mas como já foi dito hoje em algum lugar era um "desafinador do coro dos contentes" ou um porta-voz do inconformismo, um menestrel maldito,a latência da estupefação, a ardência do coração, o mistério que tem na alma todo celerado, uma mosca na sopa, um fiapo de manga na boca do sistema ou tantos clichês mais possam ser colocados na testa morta de um coração rebelde. Mas o mais triste senhoras e senhores, o que me causa maior estupefação e sinaliza para os novos tempos é que a morte virtual de Geraldo Anhaia Mello foi comentadíssima e homenageadíssima no seu Facebook. Uma morte virtual concorridíssima. Mas a morte real, com um frio que me queimou os dedos até dirigir de volta para casa pela Raposo Tavares, pois fiquei com a impressão da testa gelada dele em minhas mãos, a morte real era de uma solidão rodrigueana na noite fria de São Paulo. Entre a meia noite e a meia noite e meia dessa noite em que vos escrevo éramos apenas eu , o funcionário e o Geraldo a prescrutar a cidade que cada vez mais se oculta em quase holografias virtuais e cada vez encara menos a realidade. Até dos seus mortos. Que diferença entre a morte real e a virtual do Geraldinho.Mesmo que antes de mim nessa noite tenham passado várias pessoas por ali a lembrar dele, outras tantas como a fotógrafa Renata Falzoni tenham escrito sobre ele e que pela manhã compareçam ao seu enterro outras tantas pessoas não esquecerei a cena que vivi. Eu, Geraldinho e o funcionário solidário do velório. Não estou a prejulgar família nem a ninguém mas essa cena converteu esse morto bem vivo no virtual no morto real mais solitário que vi nos meus anos de vida.Nem sei se isso é triste mas sai do velório do Araçá nessa noite muito diferente do que entrei. Com a sensação de que não sei se gosto desses novos tempos. Mas com a sensação de certo dever cumprido por poder me despedir à moda antiga de um sujeito pelo qual eu tinha consideração. E que não merecia ser assim um morto real tão solitário.Só me resta desejar agora que esteja em muitas e boas companhias.
Comentários
compartilho com voce o que eue screvi ontem, ele vai fazer muita falta.
voce andava com as putas, tomava todas, nao tinha limite ético na tua vida; pelo que parece, pelo que dizem, eu nao sei nao te via.
deve ser verdade.
mas quem nao tem? quem nao anda com as putas, (disfarçadas em burguesas)quem nao se esqueceu de ser ético(com delicadeza)quem nao é depravado, na covardia do cotidiano, com seus pés cruzados sobre a mesa, e suas bocas cheias de dentes esperando a morte chegar?
me mandaram mensagens internas acabando com voce, me falavam do teu cotidiano,tua falta de responsabilidade, teu deliro retardado
deve ser..voce deve ter sido burro, injusto deve ter feito mal e magoado
mas tenho certeza que em alguns instantes por dia, tua lucidez se arrependia.
que joguem a primeira pedra quem nao foi filho da puta, injusto burro
Para mim, a pessoa a quem voce fez mais mal foi voce mesmo.
Sera? nao sei
So sei que voce tinha a coragem dos loucos e se era burro, tinha um "pedaço de céu" que caia nas tuas maos que escreviam maravilhas e que gritava e dizia que o amor era a unica coisa importante!
E amou, amou amou até morrer de amor
E eu daqui , do meu exilo, de madrugada as vezes qd te lia, era a unica coisa que eu via, e que me alertava me acordava, que a unica coisa que interessa é o amor
E para mim foi a unica coisa dentre todas as loucuras que voce fez e disse que ficou:
Teu amor
Obrigado por ter feito deste espaço careta, preconceituoso e tantas vezes burro
mas ao mesmo tempo o ultimo espaço democrático e pertinente do planeta
dependendo do uso
teu reduto, teu instrumento(porque das coisas, voce sabia) de prosa e das mais ricas para com tua inteligência e arte nos gritar teu amor!!
é so isso que ficou meu Geraldo , teu amor!!
meu mais sincero e dolorido beijo a Carla amada e com certeza a unica que o conheceu de verdade. Amada que foi e de que maneira até o fim.
Nunca mais nos encontramos, ouvia notícias sobre sua fase "Sobre as Ondas", quando adicionei-o como amigo no Facebook ele não respondeu, recentemente minha mulher comentou sobre um texto esquisito dele no Facebook, falando de um filho.
Pensei com os meus botões que algo de bom não seria.
Infelizmente a mão fria o levou.
Acho que você fez bem de confrontar-se com a dura realidade. Obrigado pelo teu post.
O epitáfio "PÕ GERALDINHO! não é o que os amigos desejariam, mas é o que cabe.
me permita levar seu texto, numa homenagem ao NOSSO amigo Geraldinho, para meu blog Varal de Ideias! Moro em Santa Catarina, e ele no Guaruja, portanto muitos anos sem nos encontrarmos, mas ficou a memoria de era um cara especial! Escrevia bem!
Foi a Silvia Moraes quem me mandou seu link!
Pensei: GERALDO!
Mas eu não sabia que ele tinha ido embora no sábado. O Jura acabou de me ligar.
PORRA GERALDO!!!
Eu achei que era mentira, mas se vc viu o G na sala G, agora eu tenho que acreditar.
Uma Maria... melhor ainda que náo nos conhecesse. Isso valoriza a atenção que o texto despertou em vc...abs
Anônimo...valeu mesmo!
Pat Lau... obrigado por compartilhar aqui seu texto conosco...bjs
Marcinho... partilho de sua opinião. É uma constatação...
Fernando Stickel...não é mesmo o epitáfio que queríamos. Mas é o que temos...Pô Geraldinho... abs
Eduardo P.L ... faça o uso que quiser do texto.Se for pra homenagear o Geraldinho tudo tá valendo...
Julio Boaro... fico feliz em saber então que o velório foi concorridíssimo durante o dia. Só quis registrar minhas impressões aqui sobre uma meia noite solitária com o morto sempre tão rodeado de vida ,impressões e "desimpressões"...abs... ele vive virtualmente, sim...
Mila querida... infelizmente era o G na sala G... "Porra Geraldo"... podes crer... beijos
Nilce...alertei pra fica alerta...a morte real em desuso...kiss
Passei no velório as 18:00, o frio não estava insuportável porque as pessoas esquentavam o local... lotado, apinhado de gente estranhei o numero de garotos e garotas, sem dúvida amigos dos filhos do Geraldinho...umas 60 pessoas.
Parentes, alguns amigos da área artística, mas poucos da área de vídeo (acho que nossos horários ainda são diferentes).
Me despedi do amigo praticamente irreconecível e saí. Triste mas meio surpreso com tantas pessoas ainda sem nenhum videomaker, colega de farra, ou amigo das antigas para fazer quorúm.
Parece que quando a noite, que ele tanto curtia, avançou caiu sobre ele a solidão dos últimos momentos neste mundo.
Uma pena...
Alberto Baumstein
Essa foi minha reação doidamente raivosa ao saber, no Harmonia, que o Geraldinho tinha morrido.
Não morreu, se matou continuadamente durante a vida!
Conheci Geraldinho há uns 30, 35 anos atrás, quando as palavras eram reais, estampadas nas folhas do Jornal da Tarde, ou em seu livro paráfrase das pérolas aos porcos, coletânea das crônicas publicadas pelo jornal, lançado em noite de autógrafos, no Balcão.
Escrevia bem, o Geraldinho.
Pensava bem, o Geraldinho.
Éramos amigos, desses que sorriem sorriso largo e abraçam abraço apertado quando se encontram. E nos encontrávamos 3, 4 vezes por semana.
Era casado com a Fernandinha, que tinha um amor deslavado por ele. Andavam de mãos dadas. E brincavam com os filhos. Os deles e os dos outros.
Feroz defensor da ética, da correção moral, bradava suas catilinárias aos quatro cantos em busca da justiça, da equidade, do bem público. Tinha orgulho do avô, do pai, cidadãos ilustres da Paulicéia, homens de bem.
E era divertido, insolentemente divertido, o Geraldinho.
Nada convencional, atrevido.
Inteligência pronta, cultura sólida, refinadamente educado, quatrocentão da melhor cepa.[???,postariam os amigos virtuais de hoje]
Até que um dia Geraldinho chegou ao clube, pleno verão, sol escaldante, trajando um sobretudo cinza plúmbeo e cachecol a esconderem-lhe a súbita magreza e um brilho metálico, estático no olhar, agressividade demesurada nas palavras que saiam de lábios semi-serrados.
Estava só, talvez tão só quanto Ricardo Soares o encontrou na fria mesa fúnebre do Araçá, na fria madrugada de hoje.
Trazia em si o sopro gélido das profundezas de uma alma recém inaugurada.
Foi naquela tarde de um janeiro distante que Geraldinho começou a morrer.
Não, não conheci o G, o GG, o Canibal, o Surfista, o festejado postador do Facebook, o menino temeroso da psicanalista, o delator da mulher amada, o detrator de si mesmo, essas faces insuspeitadas e destrutivas dos muitos geraldos que foram se revelando no rolar das páginas de seu mural.
Perdemo-nos no tempo real, perdemo-nos na vida real que para ele se transformou em alegoria.
Amava meu amigo Geraldinho.
Por isso, pela vez primeira fui em busca de seu perfil, e ali vi festejada outra persona, um canibal como outro qualquer, um maldito, um divertidor de seres virtuais que, sem coragem para serem putos na real, lançavam loas como que aos feitos de um personagem de bordel.
Sem direito a velório.
Como te entendo, Ricardo Soares!
Como me dói essa prolongada morte fria.
PÔ, GERALDINHO!
Mas agora fico com o Ricardo: Pô, Geraldinho!
Marli Gonçalves
O Geraldinho morreu.
Tá.
Ele tinha uma porrada de amigos e admiradores virtuais e outros tantos reais.
O Facebook dele tá bombando. Ele adorava esse oba oba, adorava polemizar, adorava chamar a atenção.
Mas ele não era só isso, não tava sempre bem nem sorrindo.
Ele tava muito deprimido e sozinho quando morreu.
Eu fico vendo (como vi ontem no velório e não pude deixar de pensar nisso) tanta gente que trabalhou com ele, que podia tentar ajudá-lo a conseguir algum trabalho, sei lá. Talvez ele não desse conta, mas a única pessoa que tentou arrumar emprego pra ele desde que ele voltou pra São Paulo foi a Pituca, através do Andréa Matarazzo (e ele esnobou). Fora a Pat que fez o divórcio e não cobrou nada, que corria sempre que ele chamava e a Carla que aguentou o inaguentável, que viu o que a gente nem sonha dele, mas estava alí sempre que ele gritava ( e ele gritava...) A ela, ele deixou declarado seu amor sincero, por que sabia que era recíproco.
Ninguém mais pra levar no médico, pra pegar no pé, pra tentar arrumar tratamento? Eu arrumei o CRATOD, ele achou uma bosta e não foi mais. Mas e se alguém tivesse conseguido alguma coisa que ajudasse de fato?
Não que isso fosse totalmente determinante no futuro dele, a gente não sabe bem, nem pode adivinhar o que está escrito; mas tem duas coisas que me incomodam:
Uma é que o personagem Canibal não era o Geraldinho, era o que ele vendia, e é triste ver gente que preferia a criatura ao criador.
Outra é que na hora da festa, todo mundo bebe e dá risada e achava ele o máximo, mas quem carregava o piano alí eram poucos.
Ele tava numa merda danada e todo mundo via, será que não dava pra ajudar mais?
Abaixo a legenda que ele colocou na foto (que usei para ilustrar o post onde ele aparece rindo e mostrando algumas de suas produções):
Guardei tudo o que publiquei para poder "datar minhas descobertas". Por incrível que pareça ando bem atual. Tô pobre mas estou na moda. eh eh eh
Foda, né?
Ele já morreu, já foi.
Mas podia bem estar vivo. Então que tal desgrudar da tela, dar uma olhada em volta, levantar a bunda da cadeira e ver se não tem alguém precisando de uma mãozinha??
O Geraldinho morreu.
Tá.
Ele tinha uma porrada de amigos e admiradores virtuais e outros tantos reais.
O Facebook dele tá bombando. Ele adorava esse oba oba, adorava polemizar, adorava chamar a atenção.
Mas ele não era só isso, não tava sempre bem nem sorrindo.
Ele tava muito deprimido e sozinho quando morreu.
Eu fico vendo (como vi ontem no velório e não pude deixar de pensar nisso) tanta gente que trabalhou com ele, que podia tentar ajudá-lo a conseguir algum trabalho, sei lá. Talvez ele não desse conta, mas a única pessoa que tentou arrumar emprego pra ele desde que ele voltou pra São Paulo foi a Pituca, através do Andréa Matarazzo (e ele esnobou). Fora a Pat que fez o divórcio e não cobrou nada, que corria sempre que ele chamava e a Carla que aguentou o inaguentável, que viu o que a gente nem sonha dele, mas estava alí sempre que ele gritava ( e ele gritava...) A ela, ele deixou declarado seu amor sincero, por que sabia que era recíproco.
Ninguém mais pra levar no médico, pra pegar no pé, pra tentar arrumar tratamento? Eu arrumei o CRATOD, ele achou uma bosta e não foi mais. Mas e se alguém tivesse conseguido alguma coisa que ajudasse de fato?
Não que isso fosse totalmente determinante no futuro dele, a gente não sabe bem, nem pode adivinhar o que está escrito; mas tem duas coisas que me incomodam:
Uma é que o personagem Canibal não era o Geraldinho, era o que ele vendia, e é triste ver gente que preferia a criatura ao criador.
Outra é que na hora da festa, todo mundo bebe e dá risada e achava ele o máximo, mas quem carregava o piano alí eram poucos.
Ele tava numa merda danada e todo mundo via, será que não dava pra ajudar mais?
Abaixo a legenda que ele colocou na foto (que usei para ilustrar o post, na qual ele aparece rindo e segurando vários textos seus):
Guardei tudo o que publiquei para poder "datar minhas descobertas". Por incrível que pareça ando bem atual. Tô pobre mas estou na moda. eh eh eh
Foda, né?
Ele já morreu, já foi.
Mas podia bem estar vivo. Então que tal desgrudar da tela, dar uma olhada em volta, levantar a bunda da cadeira e ver se não tem alguém precisando de uma mãozinha??
hahahaha um viva! para a humanidade rasa como sempre.