LEMON TREE

A vida de viajante,seja na concepção de Saramago,Luiz Gonzaga ou Jack Kerouac, tem seus percalços.Um deles é que quando você se desloca demais geograficamente ou dentro de si mesmo acaba por perder pequenos prazeres do assentamento. Exemplo: curtir o lado cinéfilo,sentado quietinho numa sala de cinema, só ou bem acompanhado, a se deliciar com as sempre presentes e boas opções que uma metrópole como São Paulo e Rio oferecem. Nesses últimos três anos andei perdendo mais do que gostaria em termos de cinema e,aos poucos,vou recuperando as lacunas conforme alguns lançamentos aparecem em DVD.

Ontem consegui ver,por exemplo, o notável "Lemon Tree", filme de Eran Riklis que viveu parte de sua juventude no Rio de Janeiro. Em notável parábola (baseada em fatos reais) narra a história de Salma (interpretada pela linda e talentosa atriz Hiam Abbas)uma viúva palestina que vê sua plantação de limões ameaçada quando seu novo vizinho, o ministro da Defesa de Israel, se muda para uma casa ao lado da sua. Os "secretas" logo consideram que os limoeiros são uma ameaça a segurança do arrogante ministro e decretam a sua derrubada. Mais que um meio de sustento para Salma os limoeiros lidam com o seu passado pois foram herdados do terno e carinhoso pai. A singeleza do filme não tem a ver somente em como o diretor trata o espinhoso tema das relações entre palestinos e judeus mas como sob o pano de fundo desse conflito ele entrelaça ternas histórias paralelas como a impossibilidade do amor entre gerações distintas ( quando Salma se envolve com seu advogado) e mesmo a solidão latente de todos os lados envolvidos na pendenga. É daqueles filmes de encher os olhos, que dão alento no cinema como uma arte que pode sempre bafejar de humanismo os corações mais endurecidos.