SESSÃO DUPLA DE HUMANISMO

Ainda repondo longa defasagem cinematográfica em virtude da ausência das metrópoles assisti nos últimos dias além do já citado belíssimo "Lemon Tree" a mais duas maravilhas ; "O Visitante" de Tom McCarthy (o mesmo de "O Agente da Estação") e "Katyn" do veteraníssimo diretor polonês  Andrzej Wajda. Mesmo com muitos anos de faina ao redor do chamado "jornalismo cultural" e de muito escrever sobre cinema não me arvoro no direito de ser crítico especializado no tema. Mas sou daqueles que a exemplo de Leon Cakoff ( cuja superlativa antipatia pessoal é compensada por seu mérito em ter criado um referencial festival de cinema em São Paulo)  amam o chamado cinema "humanista".
Nesse quesito "O Visitante" e "Katyn" são duas maravilhas. O primeiro conta a trajetória de um solitário professor universitário que vê sua vida virar do avesso depois do seu apê em New York ter sido invadido por imigrantes. Richard Jenkins, ator que interpreta o circunspecto e formal professor Walter é magistral. Levou indicação para Oscar mas isso não tem a menor importância. Importante é ver o quanto empresta de dignidade ao personagem , o quanto nos faz amar o cinema e suas possibilidades e o quanto Walter muda os seus conceitos ao cruzar seu caminho com a senegalesa Zainab e o sírio Tarek . Aliás, coincidência para mim, no filme a mãe de Tarek ( Mouna) é interpretada pela mesma atriz que faz a protagonista de "Lemon Tree" a talentosíssima e belíssima cinquentona Hiam Abbas,logo ao lado.
Já "Katyn" , o filme de Wajda, é uma porrada. Belo, denso, pesado, opressivo, bem fotografado narra com riqueza de detalhes o triste percurso de milhares de oficiais poloneses no começo da Segunda Guerra Mundial. Jogados pelos soviéticos de um campo de prisioneiros para outro foram barbaramente assassinados em 1940 pelos seus algozes que depois culparam os nazistas pelo crime na macabra floresta de Katyn. No meio de tanto horror sempre existe a possibilidade dos reencontros e dos recomeços,mesmo que muito tristes. Esse é sem dúvida um dos belos pontos em comum de "Katyn" com "O Visitante". Mais uma prova de que cinema bem feito é muito mais que um alento para os olhos.É um grande sopro de humanismo nos corações endurecidos.     

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