ÚLTIMA NOS 50...


Um breve passeio de redescobrimento por cantos da cidade há muito não percorridos. A sensação de que cada vez mais e mais do que nunca é dificil começar a envelhecer. O sangue que adocica diabético, uma dieta que tem que ser cumprida, a meta dos exercícios que tem que ser alcançados, a infância dos filhos que já se criaram , os casamentos ou uniões estáveis que desmoronaram e os amores de porvir. Como não ser pueril, repetitivo ou mesmo simplório quando fazemos aniversário ? Sempre eu disse que fazer aniversário é como ter um zero a menos no salário. Talvez porque mais do que em busca do tempo perdido eu esteja sempre querendo ter certeza de que achei o tempo de que preciso pois parece que existe mesmo cada vez menos tempo.  Não sei se há ainda muito o que se esperar do alinhamento dos planetas, do legado dos escritores passados , de rancores herdados e os adquiridos, da luta pra conseguir perdoar a todos . Os caloteiros, as ingratas, os imbecis e os nauseabundos de coração. Sou um retrato de minha própria imperfeição tentando me reinventar agora muito  mais próximo da velhice do que da juventude que sempre temi perder. Uma amiga minha, Moneya,  diz que teve a certeza da velhice com 51 porque o ponteiro do tempo se mexeu além dos 50  que é na verdade o limite máximo onde deveríamos parar antes da decadência. Mas o tempo vai continuar girando e por mais que eu não olhe com baixo astral o que está por vir é duro ter que pensar no daqui pra frente. Presente, defronte à tela do computador, sozinho e feliz, meus cães dormindo lá fora e a janela do escritório fechada vou deixando os 50 anos daqui a exatos 12 minutos. Completo os 51 no momento em que publico esse post que não ficará pra posteridade. Hoje em dia tudo é mesmo muito diferente. Comemora-se, lamenta-se em público um natalício e se expõe a olho nu todos os nossos indecentes paradoxos. Estou infeliz ? evidente que não. Cansado ?, também não. Afinal tenho a humanidade toda distante desse meu canto no mato quase urbano mas ao mesmo tempo quase aqui do meu lado. Talvez não haja nada a comemorar. Mas também nada a deplorar. Entre o dever e o haver talvez eu esteja zerado. Só que ainda não me certifiquei cem por cento disso . Inclusive do que é a vida, suas migalhas e seus dilemas. Adelante... 

Comentários

Granja Carolina disse…
Parabéns pelo aniversário.
A vida é feita de cacos mesmo.
Quando iniciamos a vida temos um caco somente, depois vão surgindo os outros.
Ter uma coleção de cacos pode ser uma sabedoria ou uma desgraça.
O segredo é não pensar muito e focar no atual caco.
Quando criança: vivemos dentro dos limites.
Quando jovem: desafiamos os limites.
Quando adulto: impomos limites.
Quando mais velho: conhecemos os limites.
Quando velho: viver é o limite.
Viver e limite se confundem dentro dos cacos.
Colecionar cacos é saber manter-se vivo dentro dos limites.
Aos poucos, vamos passando de caco em caco até viver sem limite, pois, a vida só impõe limites enquanto ela ainda for firme e forte.
Ricardo, parabéns pelo aniversário.
Viva feliz dentro deste novo caco
Daqui há, exactamente, 10 dias, estarei a sentir a mesma sensassão!!! Ou seja, no dia 18 de Junho também comemoro mais um aniversário natalício... Bem que gostaria de passá-lo ao seu lado!!!
Mas não é da velhice que eu temo... Farei, apenas, 22 anos!!! O que me faz temer é o futuro... Um futuro onde as pessoas tornam-se, cada vez mais, gananciosas, insensíveis, interesseiras e falsas...
Este bando de orubús, por quem estou cercado cá em Angola levam-me a questionar-me o seguinte; Será que ainda importa viver de forma insegura num país onde onde ninguém sabe sobre o carácter das pessoas??? Estrangeiros, nacionais... Todos falsos!!! Não podemos confiar em ninguém!!!
Claro que importa... Este tipo de pessoas só nos ensinam a ser mais fortes.
Ricado Chinendeli... Muita felicidade para si... E que a velhíce não lhe retire nunca a dignidade e a pureza que existe dentro de si. Abs

Dicas fixes no meu blog... www.angoladez.blogspot.com
Marcio Gaspar disse…
a pior coisa de fazer 51 é ter que aguentar as óbvias piadinhas relacionadas à marca da cachaça... de qualquer forma, parabéns meu caro!
Lucia Porto disse…
Ricardão, querido

Achei vc muito chororô nesse dia de aniversário. Na real, sugiro uma chacoalhada. Vc é experiente o bastante para saber que o grande trunfo da juventude está na alma, suportada pela mente, pelos pensamentos...O corpo é apenas um casco. Então, é latente pensar para o bem, para o melhor, para o que é saudável. Focar no positivo. Esse sim é um grande remédio, preventivo. E faz a gente mais feliz.
Mais tarde te ligo
Super beijo neste níver
K. disse…
Há uns dois anos refletindo sobre a questão do envelhecer, da melhor idade, etc, você disse: "Talvez sofra da síndrome de Peter Pan".

Na hora, lembro que pensei: pois é isso! esse grandalhão que bota medo em muita gente com suas linhas críticas e cítricas é, na verdade, um menino Peter Pan.

Como estou numa fase "Cortázar", hoje, penso [e comemoro] os seus 51anos com um pensamento dele.

Procurar, Ric, é [e sempre deve ter sido] sua sina. "Emblema de todos aqueles que saem à noite sem qualquer finalidade exata, razão de todos os destruidores de bússolas".

Peter Pan nada! aos 51 você é um autêntico destruidor de bússolas, em busca nesse mundão de sabe-se lá o quê.

continue procurando. continue quebrando todas as bússolas. continue crítico e cítrico. continue botando medo e irritando meio mundo. Deu certo até agora. E, continuará funcionando daqui pra frente.

quem precisa de bússolas quando tem bons cachorros dormindo na varanda? você é instinto. Acerta e reiventa o caminho pelos sentidos.

FELIZ ANIVERSÁRIO.

sou toda carinho, sempre, a esse destruidor de bússolas :)

beijos.
Angela disse…
Ricardo,
Parabéns, felicidade e mtos anos de vida bem vividos afinal, 51 é ou não é uma boa idéia?
Deixo para vc um trecho do livro solidão do jornalista José Maria Mairynk: Chovia lá fora e a umidade desenhava pássaros na vidraça, antes que eles cantassem eu os apaguei com as mãos.
Deixe que os seus cante.
Abraço
Arthur disse…
Fala Ricardo, tudo certo? Desculpa o atraso, passei pra te deixar votos de "Feliz Aniversario"! Espero que tenha aproveitado bem seu dia. Estou fora de casa mais uma vez, mas de coracao te deixo um abraco grande!

Arthur
Claudia Ka disse…
Dias de Submarino - meus dois avôs também tinham parreira em casa... Acho que todo avô que se preze tem parreira em casa... Rs.
Eu não fui ao enterro dos dois. Antes tivesse ido.
Eu gostava mais do universo de meu avô paterno, embora ele sempre fosse caladão e autoritário. Mas me lembro de algumas passagens de sua vida. Uma aconteceu quando ele morreu: meu avô tinha muitas pessoas que trabalhavam prá ele, e muitas o vinham visitar quando ele adoeceu. Um dia depois de sua morte, tocou à campainha uma destas pessoas. Um homem de 50 e poucos anos que tinha trabalhado para ele. Meu tio foi atender à campainha e disse que meu avô tinha morrido. O homem, ali à frente da porta, caiu aos prantos. Chorou com uma criança.
Lembro também quando, ao voltar de uma festa à pé (interior tem disso), um carro cheio de rapazes seguiu a mim e minhas primas. Nós morrendo de medo, os caras estacionaram na frente da casa de meu avô zuando. Ele abriu a janela do quarto e disparou o seu revólver para o alto.... Hahahahhaah os caras foram embora cantando pneu.
Até os 89 anos subia em escadas para retirar as folhas das calhas do sobrado em que morava. Se no final da vida não tivesse ido para um apartamento provavelmente teria morrido ao cair da escada... Vish.
Quando jovem esculpiu o púlpito da Igreja Luterana da cidade que escolheu para viver a sua vida inteira.

As ilustrações de seus dois livros são muito bonitas.

;-)

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