O MEU SANGUE FERVE POR VOCÊ...

Você me enlouquece. Olho o sol se pondo e o coração padece. O desejo não arrefece e não resisto à tentação da rima que me levanta do chão, me joga pra cima. O tempo está seco e o trem passa ao longe.Visões do interior. De um tempo remoto onde as árvores não se decompunham tão depressa ou não morriam aos montes sob as hastes do progresso. Um tempo em que os fogões a lenha ditavam os temperos e onde matutos tocavam modas de viola para a lua cheia e os lobisomens pouco agressivos.
E vou lá agora pensar em tempos sombrios,tempestades com vento, ilusões de cegueiras ou fogos-fátuos ? vou lá eu pensar em pianos antigos, arquivos mortos, estradas desbarrancadas, ciladas, motins, seres sem poesia, carnaval sem alegoria ? Penso em nada ruim . Nem em político, nem em eleição, nem em discurso pronto, missa tediosa, baile de quinze anos, batizado com churrasco e maionese.
Quando e o quanto você me enlouquece é pra ficar vendo morcego no sereno, passear de mão dada entre seixos e cobras, dar risada de filmes tolos e cenas banais,comer pipoca quebrando o dente, achar que nada existe no futuro e nem no passado, que aquilo que nos é dado é duplo presente. Não me ausento dessa fervura,olho por cima do muro e nem sei o que há do outro lado. Sei apenas que o sangue ferve por você e eu saracoteio no refrão da canção do Magal pois sei que no mundo , na esquina , na quebrada, nada , nada mil vezes nada está igual.

Comentários

Anônimo disse…
Do outro lado do muro há pipoca feita na panela em óleo de soja com café de coador. Colo pra deitar a cabeça e assistir ao filme presente, sem se preocupar com a duraçao das cenas; não há censura, é sem cortes. Pouco importa os filmes que você já assistiu, o agora, é cinema novo. Vê no armário da cozinha que tem um pedaço de torta salgada de liquidificador feita com as lascas do que foi servido num fim de semana, lembrança de bocados de vida na mistura da massa. Não faz mal se urubu não dá rima com bicicleta, no final tudo ferve por você e todo o resto foi pretexto. Dança Magal ouvindo concerto de Satie, besteira é pensar que o passo precisa seguir o compasso, se tudo, depois do nada, é desigual pra ti.

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