REFLEXÕES TROPICAIS (2)

UM SALVE PRA ROGÉRIO DUARTE

Há homens e há artistas que não se ajustam. E isso é muito bom. Mais para o mundo que recebe o resultado criativo e inquietante de seus desajustes do que para eles mesmos, desajustados, fora dos fusos horários dos mortais comuns e da desordem materialista monetária do planeta. Por afinidade ou por covardia completa em não conseguir ser um desajustado completo me identifico com eles, sua busca, suas alegrias, seus hedonismos e seus sofrimentos. Ser desajustado pode doer muito sim senhores. O meu trabalho atual tem me aproximado muito da vida e obra de um desajustado, um homem que não cabe em si mesmo, a mais completa tradução do que pode ser um artista na acepção atual e até cosmética dessa palavra. O nome dele é Rogério Duarte, escritor, designer e desenhista responsável pelas mais criativas capas de discos da Tropicália e pelo cartaz genial do filme " Deus e o Diabo na Terra do Sol" de Glauber Rocha.


 Sempre o admirei a distância mas nunca cheguei tão próximo quanto agora quando tenho a sorte e a chance de poder ler seus livros com mais cuidado (não conhecia por exemplo  TROPICAOS, onde dá sua versão sobre o movimento tropicalista, um belo contraponto a "Verdade Tropical" de Caetano ) e entender melho suas idéias para solidificar dentro de mim uma certeza já antiga que ele tem na história da Tropicália a mesmissima senão mais importância do que Caetano e Gil  que não fizeram aquele alarde e barulho colorido sozinhos não. Viraram uma espécie de Oswald e Mário de Andrade do Tropicalismo mas os pilares da sabedoria da TROPICALIA ainda tem a contribuição fundamental desse Rogério esquecido e maltratado pelo destino (não o estou vitimizando pois muitas vezes escolhemos nossos próprios caminhos) e de Tom Zé, José Agripino de Paula, Torquato Neto, Rogério Duprat, Julio Medaglia, Os Mutantes, Capinam, e , na medida das influências, Glauber Rocha e José Celso Martinez Correa sem falar da Gal , voz e atitude  do grupo quando Caetano e Gil estavam no exílio londrino.
O que mais me impressiona hoje ao ler Rogério Duarte é sua clarividência e seu dom profético em relação inclusive ao rumo que tomaria o movimento tropicalista. Com perdão do chavão Rogério é uma espécie de farol da raça, farol da graça e espontaneidade tropical perdida em parte por muitos meandros comerciais. Não vou ficar aqui tergiversando muito sobre o que ele fez , falou ou escreveu. O negócio é resgatar do limbo esse caboclo guerreiro antes que ele ( doente) parta. O deus mercado, as circunstâncias, a loucura de cada um, as misturas de coca-cola com rum, o marketing, o dinheiro, a ação e a reação fazem com que distintos protagonistas tomem caminhos mui diversos. Caetano e Gil nos píncaros da glória e do reconhecimento. Rogério Duarte no esquecimento. Mas a importância deles na Tropicália é igualzinha. Diria mais. Rogério era o ideologo do grupo. Para quem acha que Caetano deu a última palavra sobre o assunto eu recomendo mesmo  TROPICAOS do Rogério Duarte. Eletrizante.

Comentários

Salve Ricardo.

Vou lançar meu terceiro livro semana que vem, no dia 13, que cai numa sexta-feira (pra gente lançar livro sério no Brasil, só numa sexta-feira 13 mesmo...rs).

Se estiver pelo Rio, passe por lá. Vai ser um evento bem informal, na faculdade onde dou aula, o Instituto Isabel, que fica na rua Mariz e Barros, 612, na Tijuca (o prédio é bem próximo à estação Afonso Pena do metrô).

Vai começar às 6 da tarde e terminar às 10. Qualquer dúvida, só me mandar um e-mail que respondo: marcelohenriquerj@hotmail.com

Abração
Ricardo Soares disse…
Marcelo... estou torcendo por vc e pra vc ... de verdade! aquele abraço... pena eu não poder estar no Rio...

Postagens mais visitadas