Bom a alma saturada de poesia

       Me causa espanto ainda hoje em dia o quanto a poesia é incompatível para muitas pessoas inclusive de almas e atitudes sensíveis. Gente lida, estudada com sensibilidade refinada mas que simplesmente não se deixa pegar pela poesia, esse bálsamo d'alma , para usar uma expressão aqui quase parnasiana.
     Não sei o motivo que leva as pessoas a não tolerarem poesia. Se lhes falta um tipo de ouvido musical interior , se é uma questão de afinidade ou de não ter sido exposta a esse tipo de linguagem. Ou se foi exposta de maneira errada pois é preciso notar que muitas vezes confunde-se arremedos de poesia, lero-leros confessionais, pieguices retumbantes , diários de bordo com  poesia. Há uma impregnação total de má poesia em diversos idiomas. Isso não é mérito da língua portuguesa.
      Deixo essas mal traçadas falando sobre o assunto por conta de uma observação simplória. Desde sempre quando meu estado de alma resvala para as beiras dos abismos ( dramático né??) encontro na poesia mais do que alento. Encontro um remédio. E não sei precisar exatamente quando isso aconteceu. Deve ter sido no começo da adolescência e me dou conta disso por conta aqui do meu lado de um exemplar da espetacular ANTOLOGIA ESCOLAR BRASILEIRA , organizada pelo saudoso Marques Rebelo . Nessa época eu já curtia o gênero e essa seleção do Marques me revelou poetas e histórias sensacionais que eu não conhecia.
    Desde essa ocasião eu já tinha costume de colocar o dia em que compro os meus livros e o registro que tem na página de entrada do volume marca 8 de junho de 1974, dia em que completei 15 anos. Mas tenho quase certeza de que esse livro foi comprado meses antes numa lojinha do MEC dentro da galeria Prestes Maia, centro velho de São Paulo. Devo ter colocado a data apenas em 8 de junho por conta de algum pedido da professora de português.
    Fato é que essa beleza de livro ,que por sorte está carinhosamente bem cuidada e encadernada aqui em casa, me trouxe mais do que eu já gostava e lembro com ternura de nomes de poetas que hoje são praticamente esquecidos como Julio Salusse ( autor dos CISNES) , Álvares de Azevedo ( o superlativo do romântico), Gregório de Mattos ( O “Boca do Inferno”), Casimiro de Abreu, Gonçalves Dias, Castro Alves, Cruz e Souza , Alphonsus de Guimarães e outros “batutas”.
    Dizer que falta poesia no mundo é de uma redundância atroz. Faltam também atitudes poéticas, visões poéticas, leituras poéticas. O mundo e o país em especial está é de uma prosa enfadonha e confesso que por mais que eu tente ler com boa vontade a produção atual da literatura brasileira em prosa isso me dá um tédio total. Acompanhei por amor e por ofício o tema por muitos anos. Hoje observo mais a distância mas diria que nada me causa assim tanta espécie embora detecte inúmeros talentos. Sucede que, grosso modo, nossa literatura em prosa contemporânea resvala para um intimismo urbanoíde meio inócuo quando não crê que fazer boa literatura seja a soma de um pouco de violência, meia dúzia de maníacos, sexo, rock, birita , matadores, policias e cenário noir e pré-roteiros pra cinema. Um olho no leitor e os dois no mercado. Ufa...
    Quanto á poesia me confesso mal informado porque a maioria dos poetas com os quais convivi nos últimos anos são individuos superlativamente chatos e auto-centrados , herdeiros de uma estética retrô deprimidona ou então estilhaços de vanguardas estagnadas. Vão-se os Leminskis e Pivas ficam os herdeiros sem talento. Por isso que sem querer parecer pedante ainda prefiro me ater aos artistas da escrita que viviam na era mesozoíca pré internet, msn,e-mails e redes virtuais. Por isso ainda recomendo os autores já citados aqui que seriam capazes de singelezas como essa , trecho do poema “Flor do Maracujá” :

Por tudo o que o céu revela !
Por tudo o que a terra dá
Eu te juro que minh'alma
De tua alma escrava está!...
Guarda contigo este emblema
Da flor do maracujá!

O autor ??? Fagundes Varela... quem lembra dele ?  Foto abaixo.

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