JOSÉ E PILAR ou "Nunca é tarde para o amor"...

      
        "Nunca é tarde para o amor". Essa frase, quase um título de dramalhão mexicano,define bem, creio eu,a síntese da relação de amor entre o escritor portuguès José Saramago e sua mulher , a jornalista espanhola Pilar del Rio, retratada no filme "José e Pilar" do diretor Miguel Gonçalves Mendes que está em cartaz em algumas salas de cinema Brasil afora.
       E por que nunca é tarde para o amor ? porque Saramago aos 63 anos dá de cara com Pilar e vê sua vida transformada. Ou seja, numa idade em que muitos de nós imaginam não ser mais possível crer no amor e na mudança dos destinos o cético escritor português vê- se diante dele e das mudanças arrebatadoras que o amor pode acarretar quando a gente deixa que ela flua e nos conduza a destinos nunca dantes visitados. E é bom crer no amor, ainda que tardio, quando tudo em volta conspira para que fujamos ou não acreditemos nele como prega a letra da canção de Chico Buarque. "Tinha cá pra mim/que eu vivia enfim um grande amor/mentira..."
       Mas não quero me ater aqui a pseudo -digressões filosóficas e sim recomendar o filme que é singelo, sem pretensões e embute nele uma terna celebração ao amor. Saramago por ele e através dele se vê transformado mudando o seu destino como homem e como escritor pois passa a ser conhecido no mundo todo , coincidência ou não, após seu encontro tardio com Pilar. 
     “Se eu tivesse morrido aos 63 anos antes de lhe ter conhecido, morreria muito mais velho do que serei quando chegar a minha hora”. É assim, a partir da bela declaração de amor Saramago à  Pilar Del Río, que português Miguel Gonçalves Mendes norteia o filme 'José & Pilar' onde são surpreendentemente revelados detalhes íntimos da convivência do casal, inclusive suas rusgas. Achei o filme sincero sobretudo porque desnuda, até onde é possível , a identidade de ambos e a identidade que ambos assumiam quando se transformavam num casal de convicções pétreas e muito pragmatismo na maneira como enxergavam a carreira e a trajetória do "produto" Saramago. Em muitas passagens a gente chega a antipatizar com a figura bem humorada porém austera e arrogante de Pilar que muitas vezes sabe exatamente onde fica o seu lugar - mas muitas vezes o perde de vista quando empunha microfones imaginando-se ser alguém que não era  além da enérgica esposa de Saramago.
     Mas não estou aqui a fazer julgamento de Pilar del Rio e muito menos da relação dela com o autor de "Jangada de Pedra". Estou sobretudo a dizer que esse filme é uma celebração a sensibilidade e a ternura num mundo conflagrado. Sai do filme acreditando em amor eterno. Mesmo que seja infinito enquanto dure.

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