A HUMILHAÇÃO E O PANCADÃO EXISTENCIAL

      
     Sem drama. Mas há livros que a gente não deveria ler quando  tudo ao redor parece esboroar. No entanto,mesmo que a sinopse avise, você insiste no enfrentamento. E aí descobre que o escritor Philip Roth inventou na curta, enxuta e contundente novela "A Humilhação" um fascinante personagem chamado Simon Axler,consagrado ator de 65 anos, que está desmoronado dentro de si mesmo pois perdeu a alegria de viver e de interpretar. 
        Ao perder suas motivações mais profundas Axler se vê diante de novos e assustadores caminhos como descobrir-se apaixonado por uma mulher 25 anos mais nova que ele, filha de amigos antigos e lésbica. A paixão é correspondida e daí não conto mais. É um enredo simples e tanto. Mas complexo e tanto sobretudo quando a gente se vê diante de dilemas existenciais que nos confundem mas mesmo assim resolvemos enfrentar uma leitura espinhosa como essa e que poderia ser demolidora. Mas aí reside o desafio. Quando a gente se questiona como o protagonista e desaba em parte como ele por que náo enfrentar o dragão da maldade de frente ? Foi o que fiz. Sai ileso ? não sei. Mas sai com pistas sobre mim mesmo e sobre outros de nós que enfrentam as oscilações do caminho de maneiras distintas.
        Se estou me expondo demais nessa resenha,croniqueta, post inofensivo ? não sei. Talvez tenha querido apenas ser transparente e dizer em público que apesar do final trágico o livro foi uma mini catarse pois vi certas dores minhas e de terceiros refletidas num Axler que busca o eixo de si mesmo. Tudo isso para dizer que Roth continua a ser um escritor e tanto. Que a leitura de "A Humilhação " vale a pena pois seu ritmo é envolvente para empregar aqui uma palavrinha bem desgastada.
       Não me lembro exatamente de quando (faz muito,muito tempo) descobri Roth. Se foi meu amigo  Walterson Sardenberg Sobrinho que me recomendou (o livro "O Seio" onde o protagonista, à guisa do Gregor Samsa de Kafka, acorda um dia não transformado em barata mas num seio) ou se me caiu primeiro nas mãos o sensacional "Complexo de Portnoy" ainda no começo dos anos 80. Só sei que desde então não perco as coisas de Roth. E creio que ele , como poucos, tem uma prosa que ilumina. Se não pela luz ( já que opera no vale das sombras também) mas por clarear as vezes caminhos que nos parecem nebulosos. Sem usar dos maneirismos da auto-ajuda e nem das filosofias de pubs e botequins.

Comentários

Tania Celidonio disse…
Philip Roth e Ian Mc Ewan são dois grandes escritores contemporâneos de língua inglesa.
HUMILHAÇÃO, INDIGNAÇÃO, UM HOMEM SIMPLES... novelas tão densas que você precisa estar totalmente focado para penetrar, para absorver.....
Terminei de ler, por esses dias, um livro do Roth de 1986 - O AVESSO DA VIDA. Um romance denso, com narrativa intrigante e uma discussão muito interessante sobre religiões: sionismo,judaísmo,catolicismo. Tudo brilhantemente misturado no caldeirão feliperothiano e temperado com personagens em permnanente conflito espiritual e existencial. Viva ele!
Ricardo Soares disse…
concordo total Tanita...fora que nos dá impressão de que no Brasil não temos nada parecido com o estilo e jeitão dele né ??? bjssss

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