VIDA SEM TV

     

  Uma semana e duas horas. Foi o tempo em que fiquei sem ligar a tv aqui em casa desde que a ela retornei no dia 5 às 17 e 30 após Natal/Ano Novo.Opção consciente pelo silêncio televisivo queria não apenas o silêncio dos inocentes (rádio e internet bastavam) como me submeter ao jejum de um veículo que amo e odeio paradoxalmente visto que dele vivo há muitos anos.
  Ontem, diante da acachapante tragédia de mais um verão no estado do Rio, quebrei o jejum e mergulhei no noticiário, triste porque me vi diante da óbvia constatação de que a mídia (tv sobretudo) turbina a tragédia .Comporta-se como uma testemunha passiva que a tudo assiste mas em nada contribui para sanar o problema a não ser apontar as falhas de um sistema mais do que errado que há anos não trabalha com a prevenção mas com o socorro posterior.
  Jejum televisivo é algo mais que salutar.Nos últimos anos sempre me submeto a ele pelo menos umas três vezes ao ano,sobretudo quando passo os reveillons (que foram muitos) na fazenda das minhas queridas e amadas Celidonio sisters lá na Serra da Bocaina. Sem Tv, sem internet, sem as "maravilhas" da
modernidade que não existiam há alguns anos e que mesmo assim não impediu que muitos de minha geração fossem felizes.Sem e-mails, sem bandas largas,sem ansiedades provocadas pelas inúmeras redes de relacionamento.
   Minha digressão sem pretensão não se debruça sobre tecnologias em geral mas na televisão em particular. Ao deixar de ver ficamos livres também do lixo que ela despeja com seus valores banais,seus atores boçais,sua publicidade que nos impinge necessidades desnecessárias.Ficamos livres do lixo humano dos BBbs e das novelas,dos apresentadores que rugem e clamam por justiça com as próprias mãos, dos comentaristas esportivos arrogantes e imbecis. Ficamos livres enfim de nos irritarmos com tanta droga pesada que nos ataca o fígado.
  Todo ano que começa faço uma promessa interna fajuta (que logo desrespeito) de tentar conter minha onda crítica e cítrica e ser mais tolerante com tanta asneira. Confesso que não consigo. Julgo e critico e isso ao mesmo tempo que é minha redenção (pois não enfarto) também é minha desgraça pois me azedo o tempo todo. E muito do que produz esse efeito em mim chega pela televisão. Não consigo me controlar ao ver aquela afetação megalômana de uma Glória Maria,aquele pedantismo de um Jô Soares, aquelas ignorâncias tipo Datena e por aí vai.
  A tv tem um lado B bacana sim. Mas fica cada vez mais diluído diante de tanta maçaroca de ruindade.Os espaços para os profissionais que pretendem fazer, digamos, uma tv do bem, uma tv decente e pública perdem terreno para os cultores de uma tv púbica, idiota,reducionista e sexista. Quantas emoções baratas. Por isso ficar sem tv vez ou outra faz um bem danado. Mas não fiquem sem ela por muito tempo pois isso diminui também as ofertas de emprego de alguns abnegados que ainda acreditam no veículo como o mais eficiente veículo de transmissão de conhecimento. Eu ainda creio nisso. Por isso a tv é meu céu e meu inferno.

Comentários

Jaime Guimarães disse…
Fui para o sertão da Bahia no dia 23/12/2010 e retornei para a capital em 04/01/2011. Neste período não acessei internet, mal liguei a TV ( esporádicas vezes mesmo) e rádio, na roça, só pegava mesmo uma estação local que eu também mal escutava.

E achei ótimo tal "isolamento".

Quando fui a uma cidadezinha da região, vi grupos em volta da TV, pessoas que não desgrudavam de seus celulares, lan houses abarrotadas de adolescentes e som, muito som vindo das malas dos carros em potentes e chatos decibéis.

"Mas você veio tão pouco à cidade", reclamaram alguns parentes...rs. Ora, adivinhem...rs

Mas agora já não estou "isolado", aperto o botão e pronto: internet, TV, notícias, banalidades, entretenimento, etc e etc. E vamos nessa rs

Abs!
ANA LÚCIA disse…
Atualmente troquei a tela da TV pela do computador. Prefiro ficar horas navegando na Internet do que perdendo tempo com os programas inuteis e futilidades que as emissoras oferecem. Vez ou outra é que passa alguma "coisa" que preste. Mas agora com o momento tragédia que o país esta vivendo não dá para ficar longe da TV.
Abçs,
Ana

* PS: Que bom que gostou da caixa. Ninguém tasca mesmo!
Anônimo disse…
Pensando aqui na turbinada e espetacularizacao da tragedia das enchentes e outras na televisao. Escrevo de fora do brasil, a coisa me chega aqui esparsamente, como um pps agora por email com fotos. Me lembra aquele Barranco que despencou se nao me engano o ano passado no litoral paulista, soterrando uma pousada. Gente com grana mais ou menos. Vejo agora algumas fotos de Teresopolis. De novo, carros de 50 mil reais levados pela enxurrada, casinhas bonitinhas de veraneio destruidas. Nao sou ingenuo pra, mesmo estando de longe, achar que pobre nao se lascou nessa tragedia, e mais ateh do que os um pouquinho mais abastados. Mas me incomoda a ideologia que esta por debaixo das imagens, pq classe media novamente? Os lugares destruidos todos remetem a algum simbolo de classse media. Vcs ai no brasil tem jornais e as que tem simbolos de pobreza por detras devem estar sendo usadas numa escala muito maior do que essas de classe media que vejo agora. Mas como disse nao sou ingenuo a ponto de dizer que só comove pq é classe media, nao. Mas que muito da comocao passa por aí, passa. E se nao tivesse classe media no meio a comocao seria tanta? Pq fila em aeroporto no brasil choca e fila de macas e gente morrendo na porta de pronto socorro nao vira noticia, tanto como aeroporto com voo atrasado ? Mais, vejo agora, so por comparacao, que os mortos mensais nas estradas federais (talvez tambem nas estaduais incluso) é de 600 pessoas, agora no periodo de ferias. Digamos que sejam 400 normalmente, sem ser ferias. Ninguem nunca nem se comoveu com isso. Porque? porque a tragedia é dispersa e nao da pra cobrir como num foco, que é o caso dessas enchentes todo ano?

Enfim, como bem notaste, o fato politico e as razoes dele sao deixados mais uma vez de lado nessa cobertura, como acredito que estejam, pois nao vejo jornal aqui de longe.

Cassab na mao dos empreiteiros e abrindo as pernas para eles. Ha um historiados judeu que pesquisa idade media, nao lembro o nome, foi materia de reportagem na carta capital alguns anos atras. Ele estuda idade media, e diz que o poder era mantido na mao de alguem naquela época porque essa(s) pessoa(s) sabia controlar a situacao torelavel no limite, socorrendo o povo apenas nas crises. Mantem-se a crise , pois com ela a necessidade daquele politico é imprescindivel, e sem ele a coisa é tanto pior , vem a bancarrota. Manter a situacao social numa especie de bomba a ponto de explodir é o grande cabedal politico desses caras. Eles ganham duas vezes nesse conluio com empreiteiras: no caixa dois de campanhna e quando sao mantidos em reeleicao no cargo porque só eles sabem dar jeito na crise que criaram e mantem. Só eles sabem a manter nesse limite. As vezes ele estoura. Por isso, precisamos desesperadamente deles.

Jonas
Ricardo Soares disse…
uauuuu JOnas... que pena que não deixaste sobrenome daí do exterior (0nde?) pois seus argumentos são mui mui relevantes...thanks pelo comentário...

Jaime... o isolamento é mais do que necessário para nossa sobrevivência interior... não acha não???

Mana Ana... a tv, é aquela coisa... mal necessário...mas desse jeito, até quando? kiss

Postagens mais visitadas