IMERSÃO EM SI MESMO ou A arte de revolver sacos de lixo

  
     Aí num dia como o de hoje,sem maiores ou menores motivos aparentes, você resolve revolver enormes sacos escuros de lixo repletos de papeladas, recortes, jornais,revistas, escritos do passado. Sacos trazidos de sua ex-casa onde você já não mora há mais de oito anos. Sacos que estiveram lacrados e que trazem mais boas do que más surpresas como velhos cartões de natal,bilhetes do pai falecido,originais de crônicas, poesias e contos que remontam até a  1980,uma série de reportagens especiais escritas para o "Diario do Grande ABC"em 1983 sobre lei de proteção aos mananciais,folder de lançamento do "Caderno 2" do Estadão em 1986,reportagens muitas escritas nos anos 80 para o Caderno B do "Jornal do Brasil", cartas de remotos telespectadores do "Metrópolis" de priscas eras,cartas de admiradores de crônicas escritas para o caderno "Cidades" do Estadão nos anos 90 e assim por diante. 
    Tudo datado,tudo de uma era pré- Internet e pré-Google, uma época onde ainda havia papel carbono (achei uma caixa dentro de um dos sacos!)e onde os repórteres pesquisavam em bibliotecas e departamentos de pesquisas mesmo que dos seus próprios jornais. Aliás uma época onde os repórteres liam ao menos os jornais onde trabalhavam.
     Sujando as mãos desse pó do passado hoje confesso que não me entristeci.Não fiquei nem com a sensação do dever cumprido e nem com a sensação do ter o que fazer ao folhear exemplares de revistas que ajudei a fazer como TRIP, BOOM e Rolling Stone. Apenas me deu mais uma vez a certeza de que pouco vale o já feito visto que o feito não  é lembrado ainda mais se você (como eu) não tem a menor preocupação de digitalizar os seus feitos ou o seu passado.
      Com essa constante sensação de que o que vale é a novidade do dia, o imediato,a gente se defronta com o passado,sobretudo o profissional,como se fosse um velho ponto de ônibus que já foi muito frequentado mas que hoje está abandonado. A solução,se vai se optar pelo otimismo,é embarcar em novos ônibus que podem não ter lá esse conteúdo todo  mas são novinhos e reluzentes até que a novidade da semana que vem os sucateie também.  Estão vendo o resultado de fazer uma imersão em si mesmo ? 

Comentários

E aí Ricardo, tudo certo?

O Mário Quintana dizia que a sucata é extremamente poética, porque é o material em férias, ou seja, louco pra se transformar em outra coisa.

Comparando, podemos dizer que toda nostalgia é bem-vinda se acompanhada de uma boa síntese.

Abração e apareça lá pelo im-postura

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