o excesso de vigilância e a banalização da ignorância

  
   Não tenho a menor pretensão para a análise fecunda e  nem me pretendo aqui original visto que dizer que estamos a viver na era do "grande irmão", com câmeras espalhadas em todos os cantos, não é nenhuma novidade. Tanto que o conceito desvirtuado do "Big Brother" transformou-se em lixo planetário televisivo e a maioria da humanidade acredita mesmo que o termo  tem a ver com essa joça de programa e não com o conceito implantado dentro do livro 1984 de George Orwell.
    Preâmbulo a parte a reflexão me escapa pela quantidade diária com que os programas de lixo jornalistico na tv usam e abusam das tais câmeras de segurança usadas em edifícios residenciais, postos de gasolina, comércio ,bancos. Todos os dias a flagrar o que de mais desprezível pode fazer o ser humano. Esfaquear, atirar, espancar, machucar, agredir, predar, roubar. Reparem só na avalanche diária de imagens horrendas que essas câmeras jogam nas nossas vidas. Imagens amplificadas pela sanha irresponsável e gananciosa das grandes redes de tv que buscam apenas a audiência e não a pacificação ou apaziguamento de corações e mentes. O "deus-negócio" acima de tudo. Às favas os escrúpulos, a ética, o bom senso , o respeito ao próximo.
   Ontem essa barbárie atingiu seu ápice aparente ( mas não se iludam , o ser humano sempre pode mais em degradação) com a divulgação macabra e irresponsável dos detalhes da tragédia de Realengo. Imagens que provocam impacto até em quem está habituado por força da profissão a lidar com a tragédia . Testemunhei isso e não quis ver nada. Seria incoerente demais , macabro demais,triste demais pois sei bem o que se passou ali naquela escola. Todos sabemos.
    O mais triste de tudo é que todos os dias esse espetáculo de banalização da violência nos anestesia e ficamos passivos a ver o lamentável espetáculo de nossa decadência humana. Como se estivessemos num videogame onde mais um morto , um espancado e um ferido não fossem reais . A virtualidade excessiva empanou nosso senso de realidade. E impressionante como o excesso de vigilância que todas essas câmeras invasivas nos proporcionam não coibe mais qualquer espécie de violência. Muitos marginais mesmo vendo as câmeras não se dão ao trabalho de destrui-las e muito menos de ocultar os rostos. O excesso de vigilância, isso sim, banalizou a ignorância e agora não são poucos os que acham que praticar delitos diante das câmeras é de certa forma ganhar cinco minutinhos de triste fama diante dessa multidão de telespectadores que todos os dias adoece de descrença diante da telinha.

Comentários

Jaime Guimarães disse…
Espetacularização da tragédia, cultura da violência, do medo...

"A virtualidade excessiva empanou nosso senso de realidade." Perfeito, excelente!

Abs!
...E as pessoas adoecem mesmo diante da telinha... Contaminam-se com uma bactéria que paralisa a capacidade de perceber a diferença entre a cena da novela e a cena da vida real...
Falar sobre isso sempre me faz lembrar aquele repórter do Sérgio Porto que diante da indecisão do jornal em enviar um fotógrafo para um ‘simples’ atropelamento, ele promete que dá um jeito do morto perder a cabeça antes do fotografo chegar...
Abraços

Postagens mais visitadas