O lado Noruega de nossas vidas

   

   Pausa. Para a memória. Que pode ser uma ilha de edição como dizia o poeta Wally Salomão. Antes rima do que solução. Editando ou não nossos caminhos e descaminhos a memória de nós mesmos ou a memória coletiva acaba por deletar as passagens mais obscuras de nossas existências. Processo inconsciente pra que nos vejamos melhor diante do espelho em que nos miramos.
    Hoje todo mundo tem memórias. Inconsistentes , fugidias, momentâneas. Pior que elas são publicadas num evidente desperdicio de papel. O que de certa forma banalizou o gênero literário das "memórias" tal qual sabíamos na época de Machado de Assis ou mais recentemente na impressionantemente caudalosa e maravilhosa pena de Pedro Nava, médico e memorialista por essência e vocação e que nos deixou maravilhas como  "Baú de Ossos" ou "Balão Cativo" onde logo de cara se lê : " (...) aquela encosta do morro e a sombra que dele se derramava sobre a chácara de Inhá Luísa ficaram representando o lado noruega da minha infância. Nunca batido de sol. Sempre no escuro. Todo úmido ,pardo e verde, pardo e escorrendo." 
     Pois há um lado noruega em nossas infâncias e vidas sobre os quais bate muito pouco sol . E por mais que coloquemos os travesseiros, colchões e edredons sob o sol não há luz ou calor suficientes pra iluminar esses lados úmidos, cheio de fiordes e despenhadeiros que nos levam a mares gelados. Não sei o que importa no fundo esse lado noruega de nossas vidas.  Sei apenas que há que ser forte para detê-lo e fazer prevalecer o lado país tropical abençoado por Deus com o qual fomos brindados ao nascer nesse país mestiço repleto de luz, sol e contradições.

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