De como um cearense me fez reencontrar o Tatuapé

   
( a padaria que um cearense involuntariamente me fez encontrar)
      
   Passei a tarde de quarta- feira no Tatuapé . E daí chulé ?  podem perguntar os mais ranzinzas do que eu. E daí prezados leitores e leitoras que ter passado a tarde no Tatuapé voltou a me dar injeção de alento pela metrópole paulista tal qual já havia sucedido quando bati perna pelo centro velho na noite da virada cultural. Fui ao bairro margeado pela terrível Radial Leste encontrar o cearense Falcão , rei do brega-cult, caboclo versado em ironia, chacotices e "fuleiragens" no seu dizer peculiar. Era uma entrevista que faz parte de um trabalho que estou a realizar e que em breve detalho aqui .
   Fui de metrô desde a estação Vila Madalena pois não há mais sensatez em se atravessar a cidade de carro com esse trânsito apocaliptico que autoridade nenhuma jamais vai resolver após anos de priorização de transporte individual. Desci na estação Tatuapé, subi a rua Tuiuti , cheguei à praça Silvio Romero e daí percorri trechão da Cantagalo. Depois de prosear com Falcão refiz o trajeto de volta e daí residem as boas surpresas que os telejornais boçais jamais mostram. Sobrevivem nos bairros,sobrevive no Tatuapé, a cordialidade , o acolhimento quase interiorano que me fez desviar com prazer do rush vendo , ouvindo e assuntando coisas agradáveis.
    Caminhando pelas ruas do bairro (melhor maneira de se conhecer é caminhando por eles já dizia Samuel Wainer) deu com uma loja de perfumes de ambientes cuja proprietária é de  uma simpatia ímpar. Depois na praça Silvio Romero comi empadas, pizza de escarola, dois expressos bem tirados e água com gás na histórica padaria Lisboa ladeado por um simpatícissimo arquiteto do bairro que vive de uma empresa que pinta os edificios do pedaço. Aliás o bairro "bomba" em empreendimentos imobiliarios e o Tatuapé respira um movimento que aparentemente não lhe tira a graça de uma cidade do interior.
  Os portugas de várias gerações ali da padaria Lisboa me trataram com simpatia quando fui a eles apresentados pelo arquiteto Pedro meu mais novo amigo de infância que conheci no balcão da padoca. Na saída, impressionado com o serviço e limpeza do estabelecimento ( além dos quitutes notáveis) ouvi essa frase emblemática do Pedro : " Eu estou sempre aqui na padaria. Apareça. Você é muito bem vindo no Tatuapé!" . Pois não é que o cearense Falcão me fez sentir muito bem em um próprio pedaço de minha cidade como há muito não me sentia ? Viva o Tatuapé ! viva o paulistano ainda cordial que ainda se amontoa por aí no meio dessas pilhas odiosas de automoveis que nos tolhem a mobilidade mas por outro lado nos fazem enxergar de novo as ruas que tínhamos perdido.

(e o cearense propriamente dito)

Comentários

Cíntia disse…
Moro no Tatuapé desde 1981, onde passei minha infância, adolescência e resido até hoje.
O que faltou mencionar é que pode ser um bairro apaixonante, mas infelizmente moram milhares de Novos Ricos, que não tem educação no trânsito infernal e muito menos no cotidiano do bar.
A Padaria Lisboa, depois que teve a Visita da Ana Maria Braga, triplicou o valor do preço excluindo assim os moradores veteranos.
Realmente é um bairro apaixonante, um elo perdido de riqueza e bom gosto na ZONA LESTE, mas com acesso pessimo e custo de vida muito alto.
Com dinheiro que conseguimos comprar um apartamento na Aclimação por exemplo, talvez por aqui dê para comprar um studio de 30m2.
Com menos de R$ 400mil não se compra o tal studio...
Bom é isso, seja sempre bem vindo e lamento não conhecer Tatuapé dos anos 80 e 90, pois agora é apenas um bairro para pessoas que não tem condições de morar em Moema e esquecem que moram na ZONA LESTE.
Um abraço

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