de como uma calçada cearense me fez enxergar o futuro

       
     (o abandonado Hotel Esplanada na avenida Beira Mar em Fortaleza)

    Poucos dias. Apenas três depois de mais de dois anos. De 5 a 7 de maio.  Voltar a Fortaleza , hoje descuidada e cheia de trânsito, em caráter tão transitório e veloz me faz ombrear com o conceito óbvio de que tudo é passageiro, nada definitivo. Passei por ali tantas temporadas longas de trabalho, fiz amigos, chegou a ser minha segunda cidade. No começo de tudo fiquei no espaçoso Hotel Esplanada, fim da avenida Beira Mar , quase praia de Iracema. Ali nos jardins bebi muitas cervejas com os amigos na remota campanha de Socorro França para a prefeitura em 1996 bem antes que eu tivesse tido contato com o nefasto Ciro Gomes e sua vocação para o calote. Mas não vou empanar aqui essas mal traçadas com cavalgadura de triste figura. Volto as lembranças da avenida Beira Mar. 
       Na manhã do meu segundo dia de maio desse ano em Fortaleza fiz longa caminhada matinal e passei defronte ao que restou  do Esplanada hoje abandonado, coberto por tapumes , como se fosse apenas um gigante adormecido de outros tempos. Muito mais distantes que 1996. Parei defronte ao prédio e fiquei tentando me ver numa daquelas janelas tantos anos antes. Quem eu fui já não sou.
       Andei um pouco mais, avancei por um pier , além deles fui pra umas pedras e ao meu lado direito avistei, como se pouco se incomodasse com minha presença, um filhote de golfinho a fazer acrobacias. Olhava pra ele e alternava meu olhar para o Hotel, agora ao fundo da paisagem. Quase um filme de Fellini, versão cearense tropical. Eu personagem de mim mesmo deslocado da paisagem, da cidade, do contexto. Os turistas que ali passavam me viam como um outro deles e não como um sujeito que conheceu bem a cidade. Ou será que jamais conheceu ? na verdade a medida em que eu me afastava das ruínas do hotel e do golfinho vi que todo o cenário não fazia mais sentido. Tudo ali foi outra vida.  Voltei para a areia e vi um homem muito velho, grande e saudável fazendo exercícios de braços abertos para o sol. Copiei-lhe o gesto , continuei a caminhar  pela areia da praia  e não olhei mais pra trás. Ao voltar à calçada, de volta ao novo hotel onde me encontrava, conseguia pois enxergar o futuro.

Comentários

Oi, Ricardo. Aqui é a Ana da PUC-SP, da Semana de Jornalismo... Nos falamos há algum tempo, uma mês ou coisa parecida. Viu meu e-mail perguntando se você vai precisar de estacionamento pra que possamos incluir no nosso orçamento? Aguardo email pra combinarmos data e horário. Até breve.
Elena Corrêa disse…
Educada a assessora do evento...

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