AS CRÔNICAS MARCIANAS

     
     Há situações nesse nosso mundão de meu Deus que não são mesmo desse planeta.Mas como tudo é possível sob o sol por que então não pensar que possa haver mais lógica entre marcianos do que terráqueos ? O raciocínio aflora com a releitura tardia e em nova edição de "As Crônicas Marcianas" do lendário Ray Bradbury em edição da Editora Globo com prefácio interessantíssimo de outro lendário , o escritor Jorge Luis Borges.
     É Borges pois que aponta para o lado de horror metafísico que tem o livro de Bradbury quando revela que o conto " A terceira expedição" é a história mais alarmante do livro especialmente porque toca na indefinição da identidade dos hóspedes do capitão John Black que chega a um local, após longa viagem, que tanto pode ser Marte, como a Terra em outro tempo e dimensão ou nada disso.  Outro aspecto lembrado por Borges é a solidão , o estranhamento, o vazio que permeia todo o livro. Sensações mais fortes do que se as histórias fossem ambientadas em cenários citadinos de Buenos Aires, Nova York ou nossa São Paulo terceiro mundista.  O que fica patente é que nossa solidão as vezes nos coloca como marcianos dentro de nosso próprio planeta. E a releitura de "As crônicas marcianas" com nova tradução (de Ana Ban) e novo layout nos deixa com a sensação de forte estranhamento diante do inusitado que todos os dias está aí nas nossas portas, nas nossas calçadas ou nos fossos escuros de nossos elevadores, simbólicos ou não. O planeta Marte de Bradbury incomoda e tem mais semelhanças com nossa dimensão do que imagina a vã filosofia. Ficção científica bem feita defitivamente é altíssima literatura. 

Comentários

Jaime Guimarães disse…
É um livro e tanto, sensacional! Quem dá um tom de fato alarmante é a personagem Jeff Spender, que é amargo e, podemos dizer, até realista: "(a humanidade) não basta ter destruído um planeta e agora querem destruir outro?"

Recomendadíssimo,assim como outra obra-prima de Bradbury: Fahrenheit 451!

Abs!

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