LEITO DO RIO SECO

         
    Passeio pelo leito do rio seco. É um passeio ou um calvário ? Depois de tanto tempo  também ando pela areia,meus pés vasculham um ex-fundo que por tanto tempo esteve encoberto.Penso que se chover muito o rio se enche de novo e ninguém aqui nas cercanias há de lembrar que um dia ele secou.Você ficou aqui vendo esse rio enchendo e secando, enchendo e secando,nessa rotina que confunde paciência com acomodação. Eu,errado ou não, vim de enxurrada,tentei entender as estações das tormentas e busquei sim paz no seu sorriso. A felicidade vem no aumentativo e no diminutivo mas se esvai porque é miudinha, ladina, matreira.
     Se eu passei rapidamente não foi porque eu fugia. As vezes quem foge é quem fica parado, incapaz de mudar a paisagem ao redor de si mesmo. E, vamos combinar, a vida é mesmo curta para tanto acumulo de mágoas. O tempo passa e a gente fica com o melhor.O melhor são os isqueiros que deitaram os fluídos, os seixos que rolaram, as pedras que dão limbo ?  O melhor é uma interpretação subjetiva, uma alma furtiva,a dimensão de escritos que muitas vezes não se entendem.
     Da janela de um vapor barato eu vi uma menina a revolver com os pés delicados a areia do leito seco do rio. Os anos passaram e ela não virou mulher.Pairou cristalizada  em sua própria poesia recusando-se a crescer. Imagina-se com rumo mas está dando voltas ao redor de si mesma. Pensa estar indo mas está voltando. Quem parte sempre não está necessariamente sem rumo. A não ser que desde agora os rios tenham criado raízes. Quem parte flui,quem fica reflui. Eu parti porque não queria ver a paisagem do leito do rio seco. Você ficou porque acredita que até as mais lindas flores nascem no coração da caatinga. Vai ver é assim mesmo. E a paz seja apenas uma questão de interpretação.Seja em que época do ano for.

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