RUMO AO ESQUECIMENTO

    Eu queria poder um dia dobrar o cabo de que esperança for e atrás do desamor e das incertezas enxergar aquele horizonte perdido e colocá-lo no devido lugar da paisagem. Na verdade queria mesmo é reconstruir a paisagem que me foi tirada colocando ao invés de gramas , palmeirinhas de Beverlly Hills e casarios gigantes repletos de gentes idiotas uma porção de mudas de árvores nativas entre as quais corressem curumins remotos que jamais tiveram contato com o sujão português colonizador.
   Queria poder chegar lá adiante e olhar pra trás tendo a certeza de que os erros cometidos foram muito mais por voluntarismo que por má intenção. Queria ter podido chamar a atenção na hora certa e ser esquecido nas erradas. Queria poder fazer um inventário de minhas culpas e não me sentir tão culpado, queria poder não ser julgado pelo que escrevo e como escrevo, mas pelo que deixo passar nas entrelinhas.
  Queria um mundo enfim nem tão pronto quando aqui cheguei mas vai ver que sou uma alma antiga que contribuiu pra toda essa dor de barriga universal. Estamos cada vez mais a nos expelir pelo espaço equivocados de que somos senhores do conhecimento quando na verdade rumamos é para uma longa jornada rumo ao esquecimento.

***

Ricardo Soares, Brasília, sábado 8 de outubro de 2011  

Comentários

Anônimo disse…
Caro Ricardo, uma bela reflexão existencial, desde o "bing-bang" despontamos para o anonimato com a celeridade da expansão do universo.
O pessoal das "palmeirinhas de Beverly Hills" faz dos shoppings da cidade suas calçadas da fama, apenas reflexionam quando flexionam os músculos.
abraço

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