solidariedade aérea

   
      O hotel onde me hospedo em Brasília é quase uma sucursal da Gol linhas aéreas. Todos os dias chegando e saindo daqui comandantes, comissários, comissárias num frenesi de check in e check-outs ou mesmo em conversas animadas no café da manhã onde involuntariamente a gente acaba ouvindo detalhes do dia a dia desses profissionais. Mas hoje o que ouvi me sensibilizou pelo grau de solidariedade classista que nem sempre se verifica em outras profissões.Pouco na minha por certo. 
       Numa mesa atrás de mim haviam vários profissionais da Gol conversando alto. Alguns uniformizados, os que partiam. Outros a paisana, os que ficavam. Um deles, talvez o mais moço, manifestava viva preocupação com um colega piloto de 38 anos de idade, muita experiência e credenciais no exterior, mas com poucas horas de vôo: 250. O sujeito está desempregado e desesperado.Passa os dias acampado no campo de Marte em São Paulo em busca de serviço , mesmo que eventual, pois segundo o amigo, tem que sustentar mulher e filhos. A essa altura da conversa surge um sujeito de estatura mediana, grisalho, gordinho, cara de bonachão que saúda efusivamente a todos. Logo se percebe que é um comandante com larga experiência e que se compadece do drama do desempregado piloto que está sendo motivo de conversa na mesa. Em minutos esse comandante dispara uma série de telefonemas para Porto Velho, Manaus, centro-oeste , ligando pra conhecidos e amigos que trabalham com táxi aéreo e congêneres em busca de colocação para o desempregado desesperado. Enquanto ali permaneci fiquei sensibilizado pelo gesto. O comandante ajudando um desconhecido pelo simples fato de que um colega pediu.  Prometia enviar em breve o currículo do piloto em dificuldades e dizia : " Pode mandar ele pra qualquer lugar... se vc tiver uma vaga em Belém, onde for, ele está disposto e precisa trabalhar".
     Besteira ou não quando deixei  o salão do café da manhã hoje pensei como é bom ainda  um mundo onde existe solidariedade, mesmo que classista. E me perguntei se nos meandros da comunicação as coisas se passam assim. Creio infelizmente que não. Mas essa é outra história. Desejei vida longa e muito boa sorte ao comandante solidário. Que ele sempre encontre céus de brigadeiro por aí e que possa ajudar a melhorar o destino do outro piloto desempregado.

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