Deitar e ter uma pilha de livros ao lado da cama...

      Esse é um dos grandes prazeres da vida desde os mais remotos anos da infância. Prazer compartilhado com parte considerável de seres humanos que ainda enxergam nos livros uma maneira de acumular saber, experiência, humanismo. Livros como sinônimos de melhoria interna. Livros transcendendo a condição de meros objetos decorativos, aquelas compras feitas a metro para dar um verniz na cara de pau de ignaros compradores que nunca abrirão as suas páginas.
     Essa pueril e recorrente impressão me vêm à  mente de novo pois ontem vasculhando guardados na casa de minha tia Ottilia ( que completou com saúde 83 anos bem vividos) trouxe em grandes sacos livros herdados para os quais vou arrumando espaço aqui em minhas estantes, tentando-os proteger da luz solar, da poeira, dos inimigos que aliados ao tempo detonam os livros. 
      Alguns dos livros que trouxe de minha tia deixei ao lado da cama e fiquei bom tempo a folheá-los pela noite adentro e agora de manhã. Entre os autores ,Hemingway, o esquecido Mika Waltari, Lima Barreto e o imortal Herman Melville numa linda edição de dois tomos de seu "Moby Dick" publicado em 1957 pela livraria /editora José Olympio em 1957. Um prazer ler trechos, descobrir ou redescobrir frases , contextos, idéias, ter a exata dimensão de minha nulidade e do quanto cheguei tarde demais ao planeta para acrescentar uma única idéia original que fosse.
      Deitar ao lado da cama e ficar folheando a esmo uma pilha de livros é , de fato, um dos grandes prazeres da vida. Fazer leitura de páginas a esmo, sem se concentrar em um único e determinado livro mas em vários, ao mesmo tempo. Um caleidoscópio, um menu degustação de vários estilos, épocas , contextos. Faz nos ter a certeza de que , apesar de tanta tecnologia e avanços o tal "conteúdo" continua ali. Sólido, imutável, mesmo que propenso a novas interpretações e plataformas. Do ponto de vista de gosto literário sou um "samba do crioulo doido" um "cliclete com banana" total.  Para o bem e para o mal. Peço às forças do universo que nunca me privem de ter ao lado de minha cama uma pilha de livros. Novos ou velhos. Em quantidade para que eu sempre meça o tamanho da minha ignorância porque quanto mais eu leio mais me certifico de que pouco ou nada sei. 

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