A garganta dos garganteiros ligeiros

Parte 1
    Eu vendo papéis para os escritores. Papéis sim. De boníssima qualidade. Muitos famosos escritores são meus fregueses. Porque apesar da informática e dos computadores, apesar dos programas de textos e dos dicionários virtuais,apesar da ausência das máquinas de escrever, os escritores continuam escrevendo e - ora a vaidade ! - adoram ver seus textos impressos em papéis de fina qualidade. Mesmo que façam má literatura. É aí que eu entro.
    E por vender papéis de finas texturas, delicadas espessuras e luxuosas cores pastéis eu conheço escritórios, ateliês, salas e muquifos de muitos escritores. Ao longo dos anos fui privando de suas intimidades, conhecendo seus modos e manias, sacando como e porque escrevem do jeito que agem ou agem do jeito  que pensam ou pensam que agem conforme seus personagens.
    Ainda não sei se conhecer bem os escritores é uma sorte ou vantagem. Não posso generalizar mas devo dizer que a maioria deles é esquiva, hipócrita, invejosa. São calorosos quando você demonstra algum interesse pela obra deles. E isso sei fazer bem. Confesso que por puro interesse porque afinal quero vender bem e caro a mercadoria que ofereço. Por isso, hipócrita como muitos deles,eu finjo ter um interesse literário que na verdade nunca tive. Na verdade diria até que nem gosto de ler. Sempre fui mais pela seara dos policiais. De preferência aqueles bem antigos e manjados tipo " O Caso dos Dez Negrinhos" da Agatha Cristie ou  " O Cão dos Baskerville" do Conan Doyle. Não sou muito de ficar me babando por essas modernidades tipo Dennis Lehane ou James Elroy. ( continua depois)

ps. mas o caso é o seguinte : ando numa faina de faxina e limpeza, tentativa ( a milésima, talvez) de me organizar num cipoal de papéis antigos, livros espalhados, revistas de toda monta e toda época, recortes que nem sei mesmo para o que servem. Papéis avulsos, papéis diversos,papéis sujos, papéis limpos, papéis queimados de sol. Blocos e cadernos antigos. No meio deles, cadernos, caderninhos,cadernões, com anotações. Num deles, pequeno, espiral, de capa dura, fundo vermelho, um ideograma japa e a palavra Zen eu acabei por achar esse original acima , escrito em  11 de agosto de 2003. Como não me lembrava dele , recordo-o com os minguados e fiéis leitores do blog avisando que a ilustração desse post é por conta do sensacional artista naif João Candido da Silva.

Comentários

Ricardo Soares disse…
obrigado Nilza pelo seu exagero...bjsss

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