O MEDO,MIA COUTO E AS NOVELAS

       Uma vez recebi um convite para ser aprendiz de escritor de novelas com a pretensão, quiçá um dia, de me tornar um noveleiro das 21 hs. Declinei porque a grana era baixa e eu era incompetente para a missão, incapaz de moldar folhetins com núcleos ricos e pobres, criar bordões e daí por diante. Não me arrependo embora inveje o dinheiro que esses escritores ganhem, sobretudo com os merchandisings que bolam.

      Só no Brasil novela tem esse significado. Em outros países é um gênero literário, grosso modo uma  narrativa ficcional  curta  entre romance e conto. Aqui novela é novela de tv e embora nem tantos a vejam hoje em dia continuam a ter mais audiência do que qualquer autor nacional. Ou seja, novelista aqui é outro treco e não a denominação que tem no resto do mundo como o autor (novelista) Mia Couto, um craque que com sua poesia, estranhamento e enredos hábeis continua mantendo vivo o gênero.

      Dei toda essa volta para falar de novelas, novelistas e Mia Couto unicamente pra chegar ao medo , esse bicho-papão que nos devora todos os dias, nos amputa membros e ações, nos imobiliza e nos muda os hábitos. Como no filme de Sam Peckinpah estamos "Sob o domínio do medo" do momento que dormimos ao momento que acordamos, estupefatos que com todo esse caos social mundial ainda nos mantenhamos sob as pernas querendo comprar carros, tvs de plasmas e cruzeiros pelo Caribe.

       Medo é um superlativo de tema vital . É difícil falar algo de novo sobre ele muito embora o novo seja ,às vezes, justamente o mais óbvio como nos prova o Mia Couto nesse texto/fala dito em conferência no Estoril ( Portugal) ano passado . Recebi a dica de dois valiosos amigos que como eu tem medo de uma porção de coisas. Inclusive medo de não ter medo como finaliza o Mia. Escutem por favor...