O jornalismo como uma instituição bancária

redação ou data center ?
         É. Aprendi desde criança que não se julgam as pessoas pela aparência. Nem se julga o desempenho profissional de ninguém pela roupa que veste. Por outro lado a publicidade, sempre ela, cria imagens e conceitos e os perpetua nessa implodida sociedade de consumo. De preferência  imagens e conceitos conservadores que transformaram ,no decorrer dos últimos anos, os jornalistas em tipos alinhados , de ternos bem cortados, cabelos aprumados e sorrisos reluzentes. As moças com blusas de seda, tailleurzinhos discretos em tom pastel , cabelinhos impecáveis. O manual de redação não fica só nas questões de estilo e conteúdo mas na aparência.
     Isso posto , talvez porque eu seja de um tempo onde a imagem do jornalismo e dos jornalistas fosse outra, me causa grande estranheza ver um anúncio imenso em página dupla de uma revista "descolada" onde jornalistas- homens e mulheres- aparecem sorridentes e bem penteados como se estivessem a vender cheques especiais e cartões de crédito para bancos importantes. O meio é propício e a mensagem é direta. "Acredite na gente que te damos o  que você precisa. Informação abalizada , ponderada, nada de excessos ou grandes arroubos. Somos o jornalismo feito para banqueiros, empresários, classes bem sucedidas". E , juro, aqui não vai qualquer tom pejorativo à la PSTU ou esquerdismos afins mas apenas uma constatação. Jornalismo em nosso país nada tem de transgressão se é que alguma vez teve. Mas juro que me causa muita estranheza quando sei que nunca mais vou me identificar com a imagem atual dos jornalistas do Brasil. Talvez porque eu jamais tenha sido porque quando abracei a profissão não imaginava virar gerente de banco mas alguém que revela o que se passa do outro lado do caixa. Doce ilusão. 

Comentários

Pedrita disse…
a cultura segue muitas vezes pelo mesmo caminho. o que mais faz sucesso na mídia são os mais certinhos. beijos, pedrita
Anônimo disse…
Curioso. Você inicia seu texto se explicando o quanto cedo aprendeu a não julgar a / pela aparência. Contudo, quando leio "jornalistas em tipos alinhados , de ternos bem cortados, cabelos aprumados e sorrisos reluzentes. As moças com blusas de seda, tailleurzinhos discretos em tom pastel , cabelinhos impecáveis", parece-me puro julgamento. Pelo simples fato de não se identificar com o - talvez - padrões mercadológicos atuais do jornalismo (e de qualquer outra profissão, acredito. O ponto que você esqueceu é que não é o único valor de "julgamento" (?) - a aparência - de um profissional; as outras qualidades permanecem sendo exigidas. Um abraço. Alex.
Ricardo Soares disse…
você tem razão Alex...e eu nem disse que o único ponto de julgamento de um jornalismo é sua aparência...apenas estou afirmando que essa excessiva, digamos, "assepsia" me incomoda um bocado...e ela acaba por ser demasiadamente valorizada...abraço

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