Hebe Camargo, forever...

    
    Relutei muito em escrever sobre Hebe porque milhares o fizeram e o farão nos próximos dias. Mas, motivado pelo post do meu amigo Dagomir Marquezi no blog dele(clique aqui), resolvi ceder não por acrescentar nada relevante. Apenas para registrar mais uma das muitas homenagens que essa diva merecidamente vem recebendo. 
      Tive vários encontros profissionais com Hebe durante a vida. Creio que o primeiro deles quando por iniciativa do jornalista Ricardo Carvalho fizeram uma reconstituição do primeiro dia de transmissões da tv brasileira em setembro de 1950. Hebe deveria ter cantado o hino mas adoeceu e não foi. Lembrava disso muito divertida pois considerava o hino horroroso.  E declarou isso para gargalhada de Lolita Rodrigues que também estava na gravação. Eu fazia uma matéria de making-of daquela reconstituição para o Caderno 2 do Estadão ou o Caderno B do Jornal do Brasil , já não me lembro. Lembro apenas que foi uma manhã- tarde muito divertida ao lado da Hebe, Vida Alves, Walter Foster, Lolita Rodrigues, Cassiano Gabus Mendes e tantos outros.
    Hebe era - como bem lembra o Dagomir Marquezi - a mais completa tradução de um dos versos da oração de São Francisco :"onde houver tristeza que eu leve alegria". Era uma alegria, um otimismo que parecia real e , vai por mim , era contagiante. De outra feita passei uma tarde inteira na sala da mansão da Hebe no Morumbi para uma longa entrevista pingue-pongue que saiu numa edição dominical do Caderno 2 creio que em 1987. Foi um sucesso. Hebe escancarou, não se recusou a responder nada e deu uma aula prática de televisão.Na segunda seguinte, gentilíssima, ligou para a redação para agradecer a fidelidade ao que tinha dito. Poucos fazem isso e ela, convenhamos, dei mais uma aula de educação com o gesto.
    Vi Hebe mai uma par de vezes na vida e uma vez não pude aceitar o convite para me sentar no seu sofá porque estava viajando. Provavelmente ela estava retribuindo a uma crônica elogiosa que eu fiz para ela no caderno Cidades do Estadão . Isso já na década de 90. Infelizmente não faço a menor ideia de onde essa crônica possa estar mas vou me empenhar para achar. Não creio que seja boa mas vale como mais uma homenagem a ela.
    Sei que no Brasil santifica-se até canalhas quando morrem. Assim acho justo que  santifiquem a Hebe como símbolo de vitalidade, energia e otimismo. Isso ela nos ensinava todos os dias. Não cabem agora  julgamentos rancorosos sobre sua alienação ou suas preferências políticas. É a velha história de se perguntar mais uma vez ; "e quem é perfeito?". Pra mim perfeito eram certas noites da minha infância quando ao lado dos meus pais já falecidos eu podia ver a Hebe rindo e nos explicando quem era afinal o doutor Christian Barnard, o sul africano que primeiro realizou um transplante de coração no mundo. Sem falar uma palavra de inglês Hebe fez a melhor entrevista que já vi com ele. Ela o desconcertou com sua alegria. Era o que mais sabia fazer bem. Multiplicar sua desconcertante alegria...por isso fará tanta falta nesse mundo triste. 

Comentários

Jaime Guimarães disse…
Foi uma bela homenagem, Ricardo. Preferências políticas à parte, a Hebe Camargo era realmente um exemplo de vitalidade e otimismo! :)
Helô Müller disse…
Isso, Ricardo, sua alegria e vitalidade eram mesmo contagiantes! Jamais nos esqueceremos de seu riso frouxo e generoso!
Bela homenagem, sim!!
Helô
Marta Keppler disse…
Ahhhh que linda homenagem!!!! E quanto às preferências políticas ela deu uma bela lição de sinceridade, pois dizia abertamente de quem gostava sem medo de ser feliz. Os outros tiveram que engolir depois a suposta esquerda na casa do preferido da Hebe apertando sua mão...C'est la vie né!
Dagomir Marquezi disse…
Bom testemunho, meu amigo. Numa semana, Ted Boy Marino e Hebe Camargo. Nossas melhores lembranças estão partindo.

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