Cem anos de Rubem Braga


     O Brasil adora uma efeméride. As boas e as más. O próximo ano começa com uma das boas que são os 100 anos (se vivo fosse) do nosso maior cronista. O inesquecível Rubem Braga lembrado hoje no Estadão em um texto do jornalista Sérgio Augusto  (clique aqui) que recorda , mais uma vez, que a crônica é coisa nossa  e que Rubem foi a expressão maior do gênero aqui entre nós. A dica dessa matéria me foi passada pelo bom fotógrafo,escritor e humanista Edu Campos que me prestigia há anos.
       Muitos já escreveram mais e melhor sobre Rubem do que esse despretensioso blogueiro que vos fala. Mas assim como eu outros milhares de escribas foram e serão temperados pela verve de Rubem que fez das pequenas e simples coisas da vida a melhor das matérias primas para os seus escritos. Há poesia , sinceridade, ternura e humanismo em cada linha de Rubem Braga que mesmo nos seus textos mais doces não resvala para a pieguice que impregnou textos outros festejados por aí sobretudo na área televisiva e na literatura de auto- ajuda. Em outras palavras quanta falta faz um Rubem Braga em tempos de Rubem Alves...mas deixemos os falsos brilhantes de lado.
    Uma biografia muito competente de Braga foi escrita anos atrás por Marco Antonio de Carvalho.  Foto abaixo .Não teve a repercussão merecida e Marco ( com quem convivi e viajei para o Chile e Peru em 1982) faleceu precocemente sem poder desfrutar do reconhecimento pelo que fez. Espero que em 2013 , com o advento do centenário de Braga ,mesmo que postumamente, possam se debruçar melhor sobre o trabalho do biógrafo em cima da trajetória de vida de nosso maior cronista.

      Muitos de nós tentamos. Eu mesmo passei a vida escrevendo crônicas e foi pela porta delas que entrei no jornalismo quando as cometia aos 17 anos nas páginas do "Metrô News" e outras publicações menores. Escrevi inclusive crônicas semanais para o Estadão, JT e por aí afora . Mas sempre o bom fantasma de Rubem pairou sobre mim apontando o dedo severo como a me lembrar que eu não sei de nada. Também está tudo ok pois eu jamais teria a pretensão de chegar perto dele.  Seria como um cabeça de bagre se passar por Pelé.
       Conheci fugazmente o casmurrão e simpático Rubem Braga na Bienal do Livro de 1980 apresentado por Fernando Sabino e Ligia, sua então esposa. Tenho essa foto perdida por aí em algum escaninho de minha eterna bagunça. Uma bagunça que seria mote para uma crônica de Rubem se ele se debruçasse sobre assunto tão desimportante. Mas é exatamente aí que reside o encanto de nosso maior cronista. Tornar o desimportante importante. Lição que quase ninguém aprendeu até porque não conseguem sequer tornar o importante desimportante . Pois no fundo quão importante é o poder transitório ? é desimportante...
         Antes que eu me perca sobre digressões prolixas e "nada a ver" com nosso Rubem deixo apenas despretensiosa recomendação a todos que porventura aqui passarem. Leiam, leiam sempre Rubem Braga. Se você ainda não conhece corra atrás urgentemente. Creia que é um balsamo para variados males do espírito e até do corpo. Como hoje onde contemplo chuva fina e um pouco de frio lembrando do mar bravo de Búzios ontem de manhã onde fiquei mareado pela primeira vez na vida. Ou seja, Rubem é vida. Por mais piegas que essa afirmação possa parecer e por mais que não combine com a elegância do texto dele. Rubem não morre faça 100 ou 200 anos... 

Comentários

Edu Campos disse…
Muito obrigado. Me senti tão homenageado quanto o Braga.
2013 vem aí. Quem não for orgulhoso que preste algum tributo ao grande cronista, tão ocidental na forma e no conteúdo, mas tão oriental na forma de olhar e revelar as coisas.
A crônica tem um pé no Oriente. É uma forma brasileira de haikai.
Ou é impressão minha ?
Ricardo Soares disse…
Edu, a crônica é algo que com poesia faz jus ao refrão de Gil : "se oriente rapaz".

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