A METAMORFOSE- VERSÃO RENAN CALHEIROS

"The horror" como escreveria Joseph Conrad

        Quando certa manhã você acordou de sonhos intranquilos, encontrou-se em sua cama metamorfoseado em um político monstruoso. Estava deitado sobre suas costas duras como couraça e, ao levantar um pouco a cabeça, viu seu ventre abaulado em resultado dos ricos repastos que sempre lhe oferecem. Olhou-se no espelho e identificou um óculos fora de moda, um sorrisinho cínico e blasé, os lábios finos e os dentes semicerrados, sempre de prontidão para morder os bons nacos da vida e se trincarem de ódio quando seus interesses forem contrariados.
    --- O que aconteceu comigo ? pensou você, amável leitor...
 Aconteceu que nessa manhã você , como na Metamorfose de Kafka, ( cujo parágrafo inicial  em tradução de Modesto Carone serve de mote a essa paródia) se transformou numa coisa que não queria. Ao invés de se transformar em uma barata você acordou Renan Calheiros. O pior não é isso.
      O pior amável leitor, dileta leitora, é que você acordou Renan Calheiros com o corpo,  rosto,  vestimenta e  óculos dele. Fisicamente Renan mas internamente você continua o mesmo. Daí o supremo assombro ,aquele "the horror" ao qual se referia o mestre Joseph Conrad no coração das trevas de um Congo colonial.
   Você continua uma cidadã ou cidadão honesto, trabalhador, bom pagador de promessas e dos seus impostos . Tem vergonha dos malfeitos dos políticos do seu país e acredita ( ainda!) em administrações honestas e honradas. Nunca deu jeitinho brasileiro a nada do que faz. Por dentro você tem seus pecadilhos e erros como todos nós  mas não é um Renan Calheiros.  Mas eis que acorda transformado num Renan Calheiros. 
    E o que fazer agora ? como sair a rua sem morrer de vergonha ?. Como entrar na fila da padaria, do supermercado? Como se debruçar num guichê de rodoviária pra comprar sua passagem de ônibus ou ficar diante de um balcão de companhia aérea num aeroporto ? Como ir assistir a uma peça de teatro, ir ao cinema, passear pela feira livre ou levar seu cão pra fazer xixi pelas calçadas ?  Como andar pelo calçadão de Copacabana, pelas ruas da Savassi , pelos Jardins ou pela zona leste de São Paulo  com essa cara de pau ?  
      A solução para seus dilemas prezado leitor, dileta leitora , é simples. Sabemos que você adquiriu essa diagramação de Renan Calheiros, um invólucro ao qual associamos os mais terríveis desvios que um político pode cometer. A estampa dele nos repugna é certo. Repugna porque representa o que não queremos. Mas sossegue e veja outro lado. Se você está mesmo transformado externamente em Renan interprete o papel dele. Finja que nada está acontecendo. Até porque o Renan de verdade não pega fila alguma, seja onde for,  não leva cão pra fazer xixi nem compra passagem em guichê de rodoviária. Renan  de verdade vive no mundo dos rapapés com tapetes vermelhor e jatinhos particulares. Aquele mundo onde os grandes favores são retribuidos por grandes generosidades políticas.  A cara de pau é tanta que mesmo com toda essa repugnância que ele nos desperta o Renan anda por aí na boa . Não só assim o faz como não vê qualquer problema em querer ser presidente do Senado. E ainda é incentivado. Assim sendo não se avexe. Saia com sua cara de Renan pelas ruas e desfrute de toda a liberdade que está embutida na impunidade. 

ps. no momento em que escrevo essas mal traçadas, 13 horas e 10 minutos de 31 de janeiro de 2013 são  221.416  assinaturas nessa petição pública que tenta impedir Renan, com base no "Ficha Limpa" , de alcançar seu intento de presidir o Senado. Depois de Sarney o Brasil não merece. Clique aqui para assinar.

Comentários

Jaime Guimarães disse…
"Alguém deve ter caluniado Renan C., visto que uma manhã o prenderam, embora ele nunca esperasse por isso, afinal é um senador brasileiro, acima das leis do país. A cozinheira da Sua Senhoria, a senhora Veloso, que todos os dias, pelas 8 horas da manhã, lhe trazia o café e o cafuné da manhã, desta vez não apareceu - tal coisa jamais acontecera.

Neste momento bateram à porta, e um homem, que C. jamais vira na casa da senhora Veloso, entrou no quarto.

- Quem é você? - perguntou C.
- Polícia Federal. O senhor está preso."

Aí eu acordei. Dou uma olhada no twitter, nos sites de notícias e ouço as notícias do rádio. Lá está o senhor C., querendo ser presidente do Senado e, pior, apoiado por políticos que um dia eu julguei que fariam a diferença no país.

Depois disso, tudo o que eu queria era voltar para a cama e prosseguir com meus sonhos. Mas o carnê do IPTU me traz à realidade e descubro que não sou o senhor C. e não tenho nenhuma senhorita Veloso para um cafuné matinal. Saio e cumprimento o porteiro com um "bom dia". Ele apenas me olha e eu sigo meu caminho rumo às obrigações de cidadão.

Só assim, Ricardo, com um roteiro kafkiano...

Um abraço!

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