Impressões do Roncador


    


    Mas, voltemos ao princípio, quando, conforme não atestam as escrituras, o criador ergueu as enormes paredes da Serra do Roncador e dali fez emanar uma frequência que nem todos podem captar mas que é real, espessa, reconfortadora. Ali, na imensidão de um Mato Grosso que vai se ligar ao Pará, existem entradas, grutas, grotas, escarpas, fendas, praias fluviais, índios arredios e índios mansos e o fantasma do coronel Fawcett para alimentar as muitas lendas emparedadas  entre as pedras colossais.
    Voltemos ao princípio onde os nativos rabiscavam as paredes de pedra e pareciam enxergar o que nossos olhos não  veem . Há luzes no Roncador além da luz da lua que por lá brilha muito mais forte com o perdão do clichê lunar. Há barulho que não se explica, uma lagoa encantada protegida pelos xavantes e curandeiros que vagam não contando todos os segredos e se escondendo dos mistificadores midiáticos.
    Na entrada do Roncador há um portal. O portal tem um guardião que é uma alma boa e serena, uma mistura de caboclo sereno que ronda as veredas  com São Francisco de Assis   muito mais por seu empenho em proteger o verde do que os animais a quem ele não bajula mas deixa soltos vivendo a própria sorte e a própria vida. Não conto quem é o guardião que tem a chave do portão porque, por puro egoísmo, só quero que ali adentre quem fizer por merecer.
     Como diriam os crentes “mereci a graça” e me ponho contente. Vejo agora certas coisas de outro jeito. Dentro de mim há um ar mais rarefeito e respiro com mais dificuldade o ar da metrópole, essa dimensão sintonizada em tanta miséria, materialismo, individualismo e competição.  A frequência no Roncador é outra e não estou blefando. Conforme você vai se desligando da urbe vai sentindo apesar da serra estar cercada por soja transgênica e predadores humanos de toda espécie. Barra do Garças e sua feiura que vibra “sertanojo” , bebedeira e gritaria é a saída do purgatório . Dali para a frente, no caminho para Nova Xavantina, as vibrações mudam. Transmutam como dizem os esotéricos. 
   Mas,voltemos ao princípio, quando os rios ali foram colocados . E as árvores, e a vegetação rasteira e os gafanhotos bíblicos. Voltemos ao tempo em que era preciso anotar o nome de tantas tribos pois muitas por ali zanzaram e agora são tão poucas. Voltemos ao tempo onde o conhecimento do mundo não parecia ir além e nem precisava ir além daquelas muitas montanhas rochosas.  O tempo onde não sabíamos juntar tantos pedaços mas os pedaços faltantes não nos faziam falta. O tempo onde os vizinhos do Roncador podiam ser quaisquer criaturas. Desse mundo e de outros.  Aliás dizem que ainda é assim se nos parece. Mas para parecer e poder ver é preciso merecer.  Se estiverem interessados saibam pois que as leis que regem aquele pedaço são outras. Tão primitivas que remontam ao tempo em que as pessoas se comunicavam pelo silêncio. Mais não falo.
          

Comentários

Luma Rosa disse…
Sempre ouvi falar de aberturas com passagens subterrâneas que estariam na Serra do Roncador, na Chapada dos Guimarães e São Tomé das Letras. Uma amiga chegou do Mato Grosso falando de um tal "Portão do Inferno". São locais procurados por esótericos, ufólogos, espiritualistas... que sempre terão mistérios para serem desvendados.
Lógico que atiçou mais a minha vontade de conhecer!!
Feliz dia!

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