RUBEM BRAGA E A DERRADEIRA EXPLOSÃO SOLAR


     

RUBEM BRAGA E A DERRADEIRA EXPLOSÃO SOLAR


        Aposto no sol Rubem Braga. Não porque você fez 100 anos e qualquer canastrão do texto (como eu inclusive) tenha resolvido te homenagear. Até porque pouca importância dei a isso visto que passei a vida te homenageando o dom e a sensibilidade independente das efemérides. Inclusive da única vez que te vi ao vivo e em cores com a sua antológica casmurrice numa remota Bienal do Livro em 1980. Você me foi apresentado pelo também finado Fernando Sabino quando eu ainda garoto acreditava que era possível viver sem turbulências entre o mundo das palavras.
      Aposto no sol Rubem Braga. E também nas palavras. Logo elas tão maltratadas, açoitadas pelo língua portuguesa  useira e vezeira em ser possuída em praça publica todos os dias principalmente pelos arroubos da internet. Fico aqui a pensar o que você acharia da internet e da banalização de tantos recados sendo dados como se fossem seus, de Clarice Lispector, de Caio Fernando Abreu. Fico a pensar se você não atiraria o computador do alto daquela sua bucólica cobertura lá em Laranjeiras, Rio.  Praguejando contra um mundo que quanto mais navega na internet mais burro fica com a desinformação inundando tudo. O paradoxo seu Rubem , o paradoxo.
      Aposto no sol Rubem Braga. Aposto que no Rio apesar de tantas nuvens escuras sempre há de dar praia. E continuo achando que a praia de paulista é mesmo o restaurante, porto gostoso e caro onde eternamente afogaremos nossas mágoas por não termos praias lindas como no Rio. Mas eu aposto , aposto mesmo Rubem Braga. Aposto que as “boas coisas da vida” como você diria estão nos menores gestos. Aposto no aceno do carteiro, do lixeiro que recolhe o detrito dos bacanas , aposto no gesto gentil de quem atravessa os velhos nas ruas e nos que pensam no próximo antes de si mesmos.
      Aposto no sol Rubem Braga. E ele avança. Já está em 2013, imagina! E tanta gente a lhe tecer loas quando menos se sabe escrever. Ou menos se sabe ler o certo pelas linhas tortas.  As janelas continuam abertas mas vem das ruas um ar viciado, cansado, reciclado. As pessoas pensam como um aparelho de ar condicionado. Soltam brisas frias mas estão quentes de rancor por dentro.
    Aposto no sol Rubem Braga. No “Ai de ti Copacabana” ou Ipanema ou Leblon. Vejo daqui de longe as pedras do Leme e descanso meus olhos entre as pedras do Forte lá em cima. São olhares que você já deu a essa cidade perdida muito embora agora eu  esteja lhe falando desde a periferia de São Paulo onde a vida fica na estufa dos shopping centers. Mas quer saber Rubem Braga ? eu tenho antídotos para isso. Nesse momento mesmo cozinho uma porção de mandioca ( ou inhame no Rio, ou macaxeira no Nordeste)  e vou dar de comer a mim mesmo pensando que se a gente tem que pensar pra frente e olhar para o futuro não é pra ficar assim sempre , esquecendo o passado. O passado tem suas lições. Lima as mãos da gente. Lixa. Machuca. Mas ainda aposto no sol Rubem Braga. Até que venha um dia a derradeira explosão solar.



Ricardo Soares- 22 de janeiro de 2013 – 19 e 48

Comentários

Regina Azevedo disse…
O velho Braga, meu escritor favorito. Há quem diga que a crônica é um gênero menor, mas nada pode ser pequeno na grandiosidade de Braga.
Belo resgate, também ando devendo uma homenagem ao centenário desse poeta da prosa.
Relendo Braga, que delícia! Histórias - algumas - de tempos em que eu nem tinha nascido. Atuais, eternas. Como são eternos os sentimentos...
Valeu a homenagem, Ricardo. Muito bom! Bjks!
Ricardo Soares disse…
Regina, nunca acreditei que a crônica fosse um gênero menor. Ao contrário . Acho que ela nos aproxima de outros gêneros. Mas, enfim, essa é uma questão acadêmica. Importante é que enquanto lembramos do Braga e seu lirismo nem tudo está perdido né ? gracias pela visita.bj

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