O silêncio dos índios amazônicos...

           

    Antes que os banhos quentes da urbe façam escoar pelo ralo minhas sensações amazônicas quero aqui registrar as impressões que ficam não só na pele mas em uma segunda pele que é a da alma fatigada pelo mormaço e cansaço mas nem por isso menos perplexa quando volta de uma incursão dessas. Recordar é reviver  e recordar escrevendo é repartir sensações  muitas vezes indizíveis  em meras prosas de botequim. 
      Muitos já escreveram sobre a Amazônia e sobre a selva. Antes e depois de Ferreira de Castro. E muitos o fizeram melhor do que eu  nesse varejo de sensações mormacentas. O que posso lhes legar além de minha estupefação, mais uma vez, diante da beleza do teatro Amazonas reformado, do trânsito caótico da praia de Ponta Negra, Manaus,  das águas do rio Negro a beijar os pés da especulação imobiliária ? O que posso descrever além da minha sensação de mortalidade voando a jato hora e quarenta  sobra a selva de Manaus a Tabatinga ?  O que me espanta mais ?  aquele mar verde abaixo de mim ou a indiferença da maioria  dos passageiros diante dele ? como entender essa sanha ininterrupta dos homens em querer destruir  esse patrimônio da humanidade ?  como contar incontáveis clareiras  na selva , furúnculos  no verde, de onde já foi e continua sendo tirada ricas madeiras ? como explicar aos gringos e aos brasileiros de boa vontade a quantidade de madeireiras na beira do rio Solimões ?
    Não é que o Brasil dá as costas a isso tudo. Na verdade o Brasil continua a conhecer muito pouco isso tudo. A bússola nacional continua a se orientar por outros nortes. Sobretudo os urbanos desumanos que impiedosamente derrubam árvores pois elas são indesejáveis fabricantes de folhas. Outro dia,no condomínio onde moro, na Grande São Paulo, vi um novo vizinho imbecil derrubar uma sibipiruna antiga e muito alta porque ela atrapalha a fachada da casa nova e de gosto duvidoso que ele está erguendo. É duro ver cair uma árvore desse porte sem poder fazer nada. E sua morte por certo pouco ou nada representa  diante da queda, todos os dias,  de milhares de árvores da Amazônia legal brasileira. Uma Amazônia legal dominada por ilegais. 
     Depois de muitas horas de voo cá estou de novo. Direto do Alto Solimões para a árida rodovia Raposo Tavares em São Paulo. A primeira manhã pós Tabatinga se descortina à minha frente num horizonte de fumaças, carros e congestionamentos. No rádio a previsão do tempo e diagnósticos da crise feitas pelos mesmos "sabe-tudos" de sempre. Não ha rios, não há barcos, não há sequer a dimensão ou percepção do silêncio na manhã que jaz barulhenta. Felizes são os índios amazônicos com os seus silêncios. 

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