A bola eterna



      Um dia, quando o jovem Neymar tiver virado pó e quando a sombra de Garrincha ou Pelé tiver sido levada de todos os nossos estádios e quando esses estádios tiverem virado farelo de cimento e quando todas as toneladas de jornais e revistas que relatam essas famas tiverem virado uma sopa cósmica haverá no meio de um velho gramado , repousada na marca esmaecida de um cal antigo, apenas e tão somente aquele objeto ancestral e esférico chamado bola. Ali, solenemente largada num meio de campo desolado sem multidões em volta estará ela cercada de nenhum cuidado, ressecada e meio murcha a espera de novos pés que lhe deem um fino trato. Não sabemos se nesse futuro inóspito seremos bípedes, se voltaremos às quatro patas ou se nos comunicaremos por telepatia. Sequer sabemos se seremos poucos ou muitos ou se nosso clima será incandescente ou glacial. O certo é que a bola estará ali repousada sempre a espera de um novo pontapé inicial pois como a bola, nós humanos, somos fadados aos eternos recomeços de partidas.





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