A DAMA INDIGNA E EDUARDO CAMPOS-reflexões miúdas sobre a morte

   


   Estupefação total. Eduardo Campos, possível fiel da balança nessa eleição presidencial, sofre um trágico acidente aéreo e morre em Santos. Seu desaparecimento muda o jogo político da eleição presidencial, move as peças e nos joga, mais uma vez, nas asas inefáveis do destino como já havia acontecido quando da morte de Tancredo Neves em 1985, a morte de Covas, o impeachment de Collor. Aquilo que poderia ser definido como a síndrome dos vices na história política brasileira. Sarney só existiu porque Tancredo se foi. Itamar só entrou em campo porque Collor se mandou .Agora resta saber se a vice Marina Silva pega o bastão da candidatura e segue adiante.
     Nada somos diante do quão tênue e frágil é a vida. Diante disso, nessa era virtual, me pergunto, todos os dias, pra que servem as redes sociais, os portais com seus "comentaristas", os blogs? Para destilarmos nossos preconceitos, nossas opiniões equivocadas, para expormos nossos sentimentos e emoções baratas? pra exercitarmos esse voyeurismo existencial que tem componentes ruins e outros, menores, porém sadios? Não sei. Só sei que serve para que fiquemos mais nus diante dos espelhos.   Diante da morte que nos nivela e diante da qual nos refugiamos em tantos pensamentos óbvios. As viradas poder ser tão bruscas diante da morte que mesmo os mais competentes ficcionistas não se arriscariam a dar pitaco na frente da irreversibilidade que a morte nos coloca como peça.
    Shakespeare, a grande pena dramatúrgica da humanidade, soube dar o tamanho que a morte tem diante da tragédia da vida. Ver algo que amamos ali diante dos olhos e no dia seguinte, necas. Essa semana perdi uma cachorrinha linda que me acompanhava há nove anos. Pranteei ela em público. Vi a bichinha viva e disposta, porém magra, na semana passada e desde segunda ela não existe. Cães, ratos e homens são findos. Nada podem diante da tal tragédia da vida. Nós, ao contrário dos bichos, pensamos poder. Qual nada. Somos pó cósmico. Um feixe de átomos em busca de luz. Diante da morte da minha cachorrinha, do presidenciável Eduardo Campos e diante de todos os mortos de todos os dias julgo dizer que nada sou e nada sei. Mas continuarei tentando aprender até que a morte nos separe.
 
*Ricardo Soares é diretor de TV, escritor, roteirista e jornalista. Titular do blog Todo Prosa (www.todoprosa.blogspot.com) e autor, entre outros, dos livros Cinevertigem, Valentão e Falta de Ar. Atualmente diretor de Conteúdo e programação da EBC- Empresa Brasil de Comunicação.
 
Publicado originalmente no portal DOM TOTAL . Clique aqui.

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