DIÁRIO DA MEIA IDADE 7 - Sobre bambus e magmas



     Toda vez que vejo moitas de bambu lembro dos ursos panda.Pois não são eles que adoram a iguaria “in natura” ? Uma moita dessas, quase grande, está na janela atrás da mesa na qual eu escrevo. Penso em aparar antes que os bambus cresçam demais e atinjam o telhado. Mas reluto. Gosto de ver os bambus crescerem na mesma medida que não gosto de ver uma cerca grande feita deles se deteriorar ao fundo do meu terreno. O apodrecimento deles é uma metáfora explicita do tempo que passa depressa. Outro dia mesmo a cerca foi ali colocada e já fazem dez anos.
     O bambu serve bem para metáforas que nem precisam ser orientais. Telhados de bambu, cabanas de bambu dão a medida de um certo recolhimento a que somos submetidos em vida muitas vezes . Algumas vezes por circunstância, outras por precisão. O que podemos fazer, sem muitas escolhas às vezes, é transformar o recolhimento em acolhimento . Na verdade, me perdoem o “imbróglio” ando me sentindo acolhido por mim mesmo a fazer balanços de perdas e danos. Se disser que ando otimista com o rumo das coisas será mentira. Mas se disser que ando pessimista ou mesmo deprimido será outra mentira. Na verdade estou tentando, aos poucos, espiar através da tênue cortininha de bambu, dentro da minha cabana de bambu, como anda o tempo lá fora. Talvez tenha passado a época das erupções e eu deva converter em fogo o meu estado de magma.


Ricardo Soares, 11 de maio de 2015, 13 e 10

Comentários

Postagens mais visitadas