DESTINO IMPROVÁVEL



  

   Ao final do bafejar de um charuto (é assim que se diz ?) Nolram abstraiu-se da lareira que tinha ao seu lado e que queimava , rápido, lenha ruim. Não se deu conta que era um aristocrata naquele momento. E muito menos que vivia a situação clichê de muito aristocrata. Ao lado da lareira, fumando um charuto bem cortado, olhando a paisagem outonal que dava para uma pequena planície e tomando um excelente brandy. Nenhuma preocupação com o saldo bancário, nenhum temor quanto ao futuro.
     É bom que se diga que Nolram não ficou ébrio com seu brandy , não ficou febril e nem com sono. Só que , entre um piscar de olhos e outro, se viu diante de um imenso parque de diversões abandonado. Mais para uma enorme montanha russa abandonada onde o mato , ervas daninhas e plantas hostis vicejavam em meio a muito ferro velho com uma cadeia de montanhas ao fundo. Nolram não foi capaz de identificar a paisagem mas pode notar que estava sentado na mesma confortável poltrona de couro escuro que adornava a sala de sua casa onde momentos antes ele experimentava o calor da lareira.
       Agora faz frio aqui fora,chega a parecer que está garoando. Nolram ouve sons indefinidos ao fundo da paisagem. Fantasmagorias ? crianças que brincam de roda? Não identifica o idioma de nada, nem a paisagem de nada. Não sabe que montanhas são aquelas e sente um pouco de frio. Um cheiro de terra molhada e óleo diesel queimado chega às suas narinas. Um improvável objeto voador passa ao fundo da paisagem. Há um ronco. Parece que um grande silvo corta os ares. O som de algo pesado que desaba. Algo grande caiu no chão. Ele põe as mãos na cabeça, cobrindo os olhos. Esfrega a testa que está úmida. Ao abrir os olhos de novo enxerga sua lareira, sua sala , a mesinha onde se apóia a garrafa de brandy e até o charuto ainda aceso no cinzeiro. Tudo transposto para o chão de mato baixo desse parque de diversões abandonado. É um destino improvável para esses objetos mas mesmo Nolram sabe que ele é agora um objeto estático que agora se incorpora ao cenário. Uma estátua de si mesmo em um mundo estático. Errático. Nada impossível.

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