CLUBINHOS LITERÁRIOS SÃO UMA PARTE NÃO O TODO

  

 Me esgueirando nessas trincheiras internéticas aproveito a tal "audiência rotativa" e republico aqui esse texto que saiu na segunda- feira (27 de julho) no portal DOM TOTAL .(confira aqui o original) Trata-se de um pequeno libelo contra as panelinhas literárias  que negam a existência dos contrários e sendo apenas uma parte se dão ares de um todo da literatura nativa. Ecos do que escrevo e demais variantes vão convergir numa ampla discussão em 18,19 e 20 de setembro no Centro Cultural São Paulo. Sai da posição de observador para de organizador. Como diria o finado "filósofo" Vicente Matheus "quem sai na chuva é para se queimar". Vamos, no bom sentido, sacudir essa pasmaceira. Essa minguada literatura brasileira atual não me representa!


O ETERNO RETORNO DOS CLUBINHOS LITERÁRIOS

     Vamos falar um pouco de literatura. Da brasileira de tantas glórias e tradições.Convenhamos que ela anda acuadinha, tristinha num canto do saloon. Por certo até a metáfora de um saloon de faroeste é inadequada pois num saloon há movimento, barulho, bebedeira, risos, luzes, câmera, ação e nossa literatura é um treco anódino, “um manso lago azul sem ondas nem espumas” para lembrar o trecho de remoto poema de Julio Salusse mais um de tantos poetas brasileiros caídos no esquecimento.
   Autores de qualidade caídos no esquecimento da mídia e dos iguais grassam na nossa literatura atual. Gente que vem fazendo, pensando, produzindo e questionando, mas que não encontra espaço nem nas editoras, nem nos prêmios, nem nos debates, nem nas mamatas de feiras internacionais de livros onde comparecem autores que de forma alguma me representam ou te representam. Infelizmente é uma patotinha que se auto-incensa, incensam uns aos outros, trocam carinhos públicos e farpinhas só nos bastidores. Alternam-se nas posições de curadores, jurados e premiados como se fossem o supra sumo das letras nacionais. Não são.
      No meio de tanta pasmaceira talvez seja hora da reação. Um começo de “basta” a esse estado de coisas que acabam por se consolidar.Como se as letras pátrias fossem apenas o conluio desse clubinho (que mais flerta com a mídia para aparecer do que produz coisa boa de verdade) com acadêmicos pedantes e uma dita “imprensa especializada” metida a chic julgando estar no Soho ou Paris. Dá um tédio danado essa gente que, repito, não nos representa e tem um número ínfimo de leitores.
       Aliás está aí outra variante a ser explorada: escritor é quem aparece na mídia e nas Flips, Flaps, Flops , Flicts da vida ou escritor é quem tem leitores ? porque se o critério for o número de leitores posso apontar uma lista de autores que tem muito mais leitores que os “descolados” de plantão e nem fazem parte do clubinho.
      Mas a reação começa com a iniciativa do poeta Cláudio Daniel e de Márcia Denser, muito mais que apenas a autora nacional que era a preferida de Paulo Francis. Márcia é autora de livros ( sobretudo de contos) capitais na história recente da combalida literatura brasileira. Só para citar um exemplo o seu “O Vampiro da alameda Casabranca” deveria aparecer em qualquer antologia de conto moderno.
Pois bem. Márcia Denser junto ao poeta Cláudio Daniel convoca para setembro um amplo debate sobre o estado geral de pasmaceira da nossa literatura. Sobretudo se rebelam contra os donos dos castelinhos literários. De meu lado lhes garanto que isso não tem a ver com rancor de autores excluídos do clubinho. Não se trata de não reconhece-los mas apenas dar a eles a dimensão de que são UMA PARTE e não O TODO de nossa literatura. Acerca disso, a mediocrização das letras em geral Márcia Denser diz: “não se engana todo mundo o tempo todo!”.
     O poeta Cláudio Daniel diz que  a relação entre literatura, mercado e mídia é algo que ele tem comentado há bastante tempo nas suas páginas virtuais. É fato,sou testemunha disso. Ele diz que  as grandes editoras adotaram a estratégia de criação de uma "literatura de consumo", sem conteúdo crítico, nem informação estética nova, mas facilmente comercializável, como mercadoria. Esse novo "segmento do mercado" está no centro das feiras literárias, como a FLIP, e comanda concursos e bolsas de criação também se impondo nos cadernos de variedades da mídia impressa, sem qualquer compromisso com a qualidade artística.
     A indignação de Márcia e Cláudio tomando corpo e se juntando de maneira virtual a tantos outros descontentes. Estão conseguindo adesão de muitos autores para discutir uma porção dessas questões em meados de setembro em São Paulo. Gente bacana já aderiu como o poeta Ademir Assunção, o escritor André Sant’Anna e ao que parece o Marcelo Mirisola. Eu estou dentro também. Escritor bissexto, cronista praaticante, entusiasta da nossa literatura desde que me conheço por gente, fiquei muitos anos fazendo programas de televisão sobre literatura brasileira. E mesmo tendo deixado de faze-lo há 10 anos posso atestar: o que temos de melhor não está na mídia nem nos clubinhos. Essa discussão vai render, assim espero.
Ricardo Soares é diretor de tv, escritor, roteirista e jornalista. Foi diretor, roteirista e apresentador dos programas “Literatura” e “Mundo da Literatura” exibido em vários canais brasileiros entre 1998 e 2005.

Comentários

Thiago Alvez disse…
Pois é falando em antigo programa de televisão sobre literatura, você não pensa em voltar a fazer novamente o "mundo da literatura" ?
Ricardo Soares disse…
Pensar até penso Thiago Alvez. Mas o tal "mercado" não parece muito disposto a isso. Agora os mesmos especialistas em literatura na tv também são curadores, jurados, organizadores...sacou? abraço e não vamos desistir
Thiago Alvez disse…
Ou seja a máfia...ops panelinha não deixa.

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