LITERATURA SEM CHATURA NEM FRESCURA

     


     Mais mais uma vez publico aqui na minha trincheirinha virtual um texto originalmente escrito para o portal DOM TOTAL que versa sobre as "mazelas" da literatura pátria que está sendo vendida aqui no país e lá fora apenas como fruto do que produz uma curriola monocórdica. Alguns escritores acreditam que é hora de reagir e pedir melhor representatividade nos prêmios, nos juris e nas feiras. Ocorrerá então, como primeiro passo, um seminário entre 18 e 20 de setembro no Centro Cultural São Paulo para discutir o assunto. Tomo parte da organização junto com a escritora Márcia Denser. A propósito disso o texto abaixo versa sobre um dos temas que queremos abordar. Nâo temos preconceito contra literatura que vende . A comercial e a cerebral deve estar juntas reivindicando seu espaço junto às panelinhas. Esse é o eixo central da discussão... o texto abaixo saiu primeiro em... Clique aqui.



Por Ricardo Soares*
Raphael Montes é um autor jovem brasileiro que escreve livros policiais que nunca li.Ontem ele causou relativa celeuma no meio literário ao publicar um texto no jornal “O Globo” no qual, de certa forma, desdenhava de certa síndrome de obra-prima que acomete autores nacionais que, para se levarem a sério ou aos colegas ou para serem bem tratados por uma crítica literária (inexistente no país), soltam frases feitas a esmo e vivem falando de pesquisa de linguagem, vanguarda, “realidade indizível”, “instâncias sociais”, falácias e falésias de linguagem que acabam por desviar o foco do que interessa, que é pura e simplesmente escrever para ser lido, para ser entendido.
Muitos escritores não gostaram do que disse Raphael Montes. Eu, sinceramente, o entendo. Ao menos ele se expõe e assume que faz literatura de mercado. Menos mal...a maioria quer esconder isso sob o manto de "grande literatura". O que se pede na verdade é que exista espaço para gregos e troianos e não apenas para as panelinhas que estão sempre na mídia e nem vendem como o  Raphael. Não são nem literatura de entretenimento e nem grande literatura mas abocanham prêmios, alternam posições de concorrentes, curadores e jurados, vão e voltam para feiras nacionais e internacionais como se representassem o todo da literatura brasileira.
Não representam, pois apesar de combalida ela é muito mais que esse clubinho. E nesse todo deve caber tanto a ‘panelinha” como excelentes autores excluídos dela como Márcia Denser e Marcelo Mirisola. Mas devem também caber os Raphael Montes ou Marcelo Rubens Paiva que me parecem não se constranger – e nem deveriam- de contar histórias e produzir literatura de entretenimento. Não cometamos aqui erros que já cometeram os “acadêmicos” americanos que sempre torceram o nariz para Stephen King , por exemplo, e hoje são obrigados a reverem as suas posições.
Até porque, como muitos sabem, King sempre bebeu na tal “alta literatura” de Poe, Lovecraft e muitos mais. O que é preciso existir ( como bem definiu minha companheira) é uma democratização da representatividade na literatura brasileira.
Menos chatura e menos frescura. Que venham à tona os eternos defensores dos tediosos conceitos da poesia concreta mas que também deixem fluir os arautos da poesia romântica, da rara porém boa poesia que anda sendo praticadas em nossas capitais.
O problema é que entre os egos artísticos os dos escritores são os mais transatlânticos. Só entre publicitários se vê tanta “pavoneação”. O marketing não pode se sobrepor ao que se escreve mas, para o bem e para o mal, ele está presente hoje em qualquer divulgação de obra literária como admitiu, resignado, o próprio Leonardo Padura, escritor cubano recentemente adotado como queridinho damídia brasileira.
Em setembro, no Centro Cultural, em São Paulo, parte disso tudo estará em discussão num encontro que surgiu da iniciativa da escritora Márcia Denser e do poeta Cláudio Daniel. Eu passei de observador a organizador do evento com a Márcia. E torço para que ele seja uma chance de discutirmos um pouco a literatura nacional e esse tal direito de uma panelinha se dizer representante de todos.
Repito, a parte não é um todo. Com meus sete livros publicados  (cinco infanto-juvenis, um romance adulto e um livro de poesia )mais a coautoria de uma porção e participação em antologias, sou tão escritor quanto os da panelinha, a Márcia Denser ou o Raphael Montes. E não estou nessa de competir para saber quem é o melhor. Mário Quintana dizia que literatura não era corrida de cavalo. Não é mesmo. Mas é justo e democrático que todos estejam no páreo.
*Ricardo Soares é diretor de tv, escritor , roteirista e jornalista. De 1998 a 2005 dirigiu, escreveu e apresentou os programas “Literatura” e “Mundo da Literatura” exibidos em vários canais de tv. É 

Comentários

Thiago disse…
Meu caro Ricardo, concordo plenamente com tudo o que você escreveu tanto nessa como na outra postagem sobre "as panelinhas", é de fato uma pena que sempre como você citou sempre vemos as mesmas caras nos eventos literários, eu por exemplo não aguento mais ouvir o Luís Fernando Veríssimo(e olha que eu gosto muito de suas crônicas e de alguns romances) falar sobre ele brincando de "matar japonês" quando ele era pequeno e morava nos EUA, sem falar naquela chatice que geralmente leva metade da entrevista dele falando a respeito da sua suposta "timidez"(eu nunca vi tímido dar tanta entrevista e tocar em banda de jazz), a Márcia Denser eu só soube de sua existência numa crônica recente do Marcelo Mirisola, confesso que com sua ratificação na qualidade dos contos por ela publicado me deixaram interessados em sua obra.
Eu ao contrário dos críticos americanos não engulo o Sr. Stephen King, o pior livro que eu li na minha vida foi "a coisa", e falo isso mesmo já tendo um livro lendo Paulo Coelho.
Ricardo Soares disse…
Pois então Thiago...estamos precisando olhar para o todo de nossa combalida literatura e não só para a parte das panelinhas...fico feliz que tenha se interessado pela Márcia Denser. Vc não vai se arrepender...absss

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