HOUSE OF CUNHA.PERIGO REAL E IMEDIATO

     Cheguei com atraso a essa discussão comparativa entre a série americana "House of Cards" e o aterro sanitário de nossa política nativa atual. A essa altura especialistas em séries televisivas de todos os matizes já nos brindaram com seus "achismos" acerca da excelente trama em 3 temporadas ( com 13 capítulos cada) disponíveis na Netflix. Pouco ou nada tenho a acrescentar a não ser minha constatação da assustadora proximidade entre o que mostra a ficção e o que acontece nos bastidores da política. Como sei disso ? respondo pois só com a lembrança de que participei de 13 campanhas políticas. O jogo é bruto.
     Frank Underwood, político americano que não mede meios para manter-se no topo da cadeia de poder dos Estados Unidos é vivido pelo excelente Kevin Spacey em "House of cards". Seu ego e ambição não tem limites e esse é o mais verossímil eixo da série. A maior parte dos políticos de porte ( ou não)  que conheci são tão egocêntricos e autocentrados o que não torna Mr.Underwood uma caricatura fora de  contexto. Seja lá nos EUA ou cá.
        No caso brasileiro muitas foram as vezes que compararam a trajetória de Frank Underwood ao nefasto deputado Eduardo Cunha. Não concordo porque apesar da vilania e falta de caráter o personagem ficcional tem um charme e carisma que Cunha não tem e nem terá jamais. E aí reside um enigma. Como alguém tão desprovido de qualquer encanto físico ou intelectual pode ter chegado onde chegou como o tal "sabotador geral da República" como o definiu uma revista decadente ? 
           Cunha é uma mistura de Frank Underwood com o Mr. Burns dos Simpsons. É também aquele típico vilão de novela de época, o coronel Lêoncio, o senhor algoz interpretado por Rubens de Falco na novela "Escrava Isaura". Cunha é intrépido ,cínico, ousado, feio, asqueroso, arrogante , também uma versão magra da prepotência e arrogância homérica de Antonio Carlos Magalhães. É a soma de muitos arquétipos da maldade. Ou seja, é tudo de ruim o que o torna um perigo real e imediato e por isso me dá uma cálida tristeza ao assistir "House of Cards" essa fantasia ficcional. Aquilo , por pior que seja, é irreal. Cunha está aí . Aqui e agora. E nossa impotência em detê-lo dá uma frustração cívica tremenda.
      Antes que eu me embrenhe pelo cipoal do melodrama acrescento que dizem ser "House of cards" a série favorita da presidente Dilma Rousseff e  de Barack Obama que,inclusive, teria  declarado que gostaria que algumas coisas na Casa Branca funcionassem tão bem quanto na série. Como profissional de comunicação ou até como   bisbilhoteiro  fico curioso em saber quais são as reações  (inclusive faciais, de expressão) que teriam Dilma e Obama diante das peripécias de "House of Cards" quando se deparam com a semelhança entre os golpes baixíssimos da ficção com a realidade . E também me pergunto que lições a série ensinou a milhares de marqueteiros mundo afora  diante da realidade que ela nos joga na cara. A política é o fim ? A política é um fim em si mesmo ? A política, como está, dará fim a nós todos ? Isso , creio, nem 50 temporadas de "House of Cards" poderão nos responder.

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