"Inês imprensa" é morta



( texto publicado originalmente no DOM TOTAL . ( Clique aqui)


     A imprensa brasileira virou um território inóspito,devastado, de paisagem calcinada tal qual vemos naqueles clichês cinematográficos americanos tipo “Mad Max”. Essa paisagem torna-se ainda mais contundente quando observada a distância e só resta lamentar a que triste fim chegamos.
    Entro nesse território apreensivo, com a mão no coldre, pois infelizmente também estou armado. É um lugar que eu conhecia bem,onde tinha amigos e colegas. Mas hoje quase não conheço ninguém. É um território hostil e sou apenas um forasteiro de meia idade deslocado de uma paisagem que um dia supus que também fosse minha.
     Gestamos os ovos de tantas serpentes por muitos anos. Não foi por falta de aviso de gente esclarecida. E, agora, Inês morta o que resta fazer? Dar uma de moderninho e engrossar o coro dos que dizem que a imprensa está viva sim , apenas se reciclando em buscas de “novas formas e desafios ?”. Me poupem caras pálidas. Tal qual conhecíamos a mídia nativa está morta e enterrada e os pretensos bad boys que frequentam os salões desse território inóspito não passam de cães que ladram mas não mordem. São fracos, mal alimentados intelectualmente, rasos.
    O fato da “Folha de S.Paulo” contratar um jovem analfabeto e fascista para integrar seus quadros é a pá de cal naqueles que ainda relativizavam o tal fim da nossa imprensa. Não se trata mais de uma discussão ideológica. É uma discussão patológica. Ficaram todos doentes, legitimando a doença da ignorância e desinformação ao cederem espaço , pretensamente nobre, a estupidez suprema. O atestado de “nada ser” fica valendo daqui pra frente. Basta falar mal de um governo impopular ou destilar ódio que tem espaço. E, pior, com a defesa de um cínico discurso de pluralidade.
   O erro colossal da Folha pior que não me assusta. Não assusta aos veteranos e nem aos jovens profissionais esclarecidos que um dia acreditaram numa imprensa  de verdade. Não imparcial pois imparcialidade é um mito inventado. Mas ao menos justa. Hoje vivemos regras tão selvagens que a primeira vítima a tombar  nessa guerra  foi a verdade. E fomos tão incompetentes que nem sabemos o dia, hora e local exatos  onde se deu essa tragédia. Mas ela está consumada. Literalmente a Inês-imprensa  é morta e eu que já não reconheço a paisagem tenho medo disso tudo.
Ricardo Soares é escritor, diretor de tv, roteirista e jornalista. Autor de sete livros foi cronista da revista "Rolling Stone" e dos jornais "O Estado de S.Paulo" e "Jornal da Tarde" entre outros.

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