Quando fazer arte é um livramento

   
Cristina Livramento, fotógrafa, escritora e jornalista
     Cristina Livramento é uma jornalista, fotógrafa e escritora que acompanho há anos muito mais virtualmente do que pessoalmente. Sempre lhe louvei o desapego e a coragem, a busca pela inventividade , o desapego, o talento  e a não alienação. Nunca sei se ela está pelo Rio Grande do Sul, pelo Mato Grosso ou por São Paulo. Mas tem sempre algo dela que me toca , especialmente quando é refém de inquietações como as que exponho a seguir e que escritores às vezes relutam em abordar. Uma inquietação que tenho em comum com ela e que me paralisou muitos anos. A saber ...
     Diz Cristina em seu blog (postagem original aqui): "Algumas pessoas publicam o que escrevem, outras preferem manter toda uma produção dentro da gaveta. Acredito que, de uma forma ou outra, todos nós temos um certo estranhamento quando revemos o que já foi feito. No fim de 2016, eu me debatia contra essa fixação em ser autobiográfica. Tudo o que já havia produzido me irritava e eu tinha um nome pra isso — mediocridade". Com variações sobre o mesmo tema sempre pensei o mesmo. E aí vem outra conjetura que ela expõe :  "Por que a gente se cobra tanto? É o exercício constante que nos transforma. A lamúria paralisa". 
     Sim , a lamúria paralisa, a angústia da influência nos intimida e assim passam-se os anos sem que deixemos vir à tona a vocação para a qual , enfim, acho que fomos feitos. Tomei emprestado dela essas reflexões porque estou parando aos poucos de me punir por tantos anos de inércia. Sem publicar, sem me expor, só lamuriando e vendo tanta coisa questionável sendo feita por aí como novidade. Aos poucos agora coloco de novo a carcaça na chuva com a publicação de "Amor de mãe" pela editora Patuá. Nunca é demais quando resolvemos, enfim , deixar de perder tempo. Melhor ainda quando fazemos arte sem grandes expectativas além de ficarmos livres de nós mesmos e tentar dar um pouco de placidez e enlevo a um mundo severamente conturbado. É um livramento para fazer aqui um "trocadalho" com o nome da artista que o inspirou.

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