Lâmpadas de nossa coragem

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Lâmpadas de nossa coragem
 ( publicado originalmente no DOM TOTAL. ( clique aqui)
O colega criativo Leandro Saraiva – não vou chamar de jornalista primeiro porque a profissão está se extinguindo e segundo porque ele pode se ofender - diante do absoluto pântano em que nos encontramos colocou um raciocínio curioso com o qual gostaria de em tese concordar mas não concordo . Primeiro o raciocínio dele: “Mente quieta, espinha ereta, o coração tranqüilo, conseguir não parar de trabalhar e investir numa refundação política. Precisamos de algo como um Frente Ampla de Esquerda. Assim que ficar sacramentado que a Era Lula acabou, vamos ter que costurar o que sobrar do PT, PSOL e quem mais estiver vivo no campo de batalha. Pra começar a enterrar os mortos e preparar a terra pra que nossos filhos possam plantar. Voltamos ao inicio dos anos 70. Então vamos fazer teatro, jornalismo, cinema, política de base, pensando no futuro”.
O raciocínio do Leandro é preciso especialmente quando diz que voltamos ao início dos anos 70. Em tese até queria concordar com ele porque eu era ainda jovenzinho e vi esse início e fim dos 70 com seu teatro, jornalismo, cinema, política de resistência. Tudo feito de maneira panfletária ou não. Mas sendo feito. Cresci inquieto lendo e vendo gente que gravitava ao redor disso tudo e lendo "Pasquim", "Enfim", "Folhetim" e afins como “Movimento”, “Opinião”, a fugaz "Repórter Três". Quisera que essa nova geração tivesse o altruísmo, o heroísmo e a galhardia para refundar tudo isso. Mas, no geral, só vejo uma moçada egoísta, exclusivista, alienada com a cara e a mente afundada nos smartphones e youtubers da vida. Verdadeiros zumbis existenciais. Não é a toa que a onda de filmes zumbi bombam mundo afora. Não sei pois como e nem quem faria todo esse novo movimento que o Leandro propõe já que nós, os mais velhos, estamos tão desalentados, desorientados e divididos que não vejo pontos de coesão como uma Frente Ampla de Esquerda. Como vingar um projeto desses se o que sobra do PT execra o PSOL e o PSOL sabota o que sobra do PT? E por aí vai. Assim sendo manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranqüilo parece muito difícil.

No meio da troca de idéias com Leandro eu citei um anônimo membro da resistência francesa que disse em 1943: "Uma escuridão terrível abateu-se sobre nós, mas não podemos nos render. É preciso erguer bem alto as lâmpadas de nossa coragem e encontrar o caminho que nos conduzirá pela noite em direção à manhã". Tanto o resistente francês como o Leandro estão certos. É preciso, mais do que nunca, manter altas as lâmpadas da coragem. Mas está difícil. Afinal quantos somos para conduzir esse processo? Quanto ânimo temos? E, por fim: quem nos financiaria já que está tudo cooptado?

O Leandro, que é sim um baita resistente, contrapõe dizendo que é sim “mais difícil que nos anos 70, com certeza. Mas dá pra tentar, até porque se não der, só resta dedicar o tempo que nos resta pra estudar sânscrito”. Ele está certo e tem autoridade pra falar nisso . Segue muito mais ativo do que eu e outros que ficam fazendo apenas pseudo-ativismo de internet. Ele diz que tudo “parece um pouco aquele vamo que vamo dos 43 do segundo tempo, perdendo por (va lá...) dois a zero. Parece porque é. Não tem esquema tático.” E nessa embolada toda nos compete como ele diz “seguir na arena. De preferência com a mente quieta e o coração tranqüilo”. A parte da espinha ele está garantindo com horas e horas de meditação coisa que eu não tenho nem maturidade nem atenção suficiente para conseguir. Ando em busca de paliativos para os tempos aflitivos.

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