peixes católicos de Adélia Prado

    

   (...) Para certas cápsulas é preciso se levar só aquilo do que se precisa. Uma escova de dentes, um cortador de unhas, um rolo de abrir massa, pão, sal e trigo, chá preto, pomada para assadura, um livro de receitas e remédios para asma além das saudades das terras dos avós. Lembranças é preciso não ter muitas porque mais do que espaço elas ocupam o coração e o machucam.Está achando piegas ? Pois é. Emoções baratas são nosso forte, prato servido com deleite  nesse menu além de bananas com canela ao forno e pão de minuto e os indefectíveis bolinhos de chuva. Só não me venha com os intermináveis e monocórdicos peixes católicos de Adélia Prado e cordeiros divinos que tiram os pecados do mundo. Não suporto chorumela e nem autopiedade regada a terços e novenas. Não gosto de gente que se acha santa  e nem dos latifundiários da poesia. O hemisfério poético que habito não pertence só a Bandeira, Drummond, Quintana e Manoel de Barros mas a tantos ditos e desditos numa confraternização na qual habitam juntos Guimarães Rosa, Lima Barreto, Raul Pompéia, Ronald de Carvalho e José Lins do Rego. Nesse espaço a edícula minúscula,mal ventilada e calorenta fica com a estéril poesia concreta e sua transformação de sentimento em pedra. Sou romântico e nem precisava redundar acerca disso.  Minha matriz é feita de noites mal dormidas , fantasmas trôpegos de absinto, virgenzonas cabaçudas a espera de maridos, folguedos suarentos portugueses, pastéis de natas e rabanadas. Também aprecio bons cristais e bons modos à mesa por mais contraditório que isso possa parecer. Nesse momento pois me reservo ao direito de tirar o boné e sentar à mesa em merecida pausa para descanso. (...)

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