A ARTE NUNCA ESTEVE COM INDIGESTÃO

   

    Vou poupar a todos de uma crônica de um infarto não anunciado mas ver ali aqueles meus dois amigos diante de um leito que poderia ser de morte me deu a dimensão de certas coisas. Dimensão precisa, incontornável. Os quase “sessentões” sobre mim debruçados eram os mesmos que ainda longe dos 20 dividiam planos , mistos quentes e Pepsi Colas num bar fuleiro- que a gente chamava “ Bar Imundo” -  na rua General Jardim , centro de São Paulo, bem ao lado da Biblioteca Monteiro Lobato que a gente freqüentava todos os sábados para falar de livros, autores e palavras que a gente inventava.

    Naquela cidade que vivi aos 15 anos cabia muita coisa que hoje nem se mede nas distâncias percorridas, nas prosas então levadas, naquilo que poderia ser. Que foi e que não foi. As escolhas que fizemos ficaram ali por aqueles quarteirões que reluziam durante a noite pois estávamos em plena “Boca do Luxo”. Ali, alheios a um certo tipo de movimento lascivo e gosmento , falamos tanto sobre as tais escolhas e com custo as escolhemos. O resultado de tudo está aqui, agora, ao redor dessa cama de UTI. Para mim e para eles. Sorte que é um resultado- por mais decepcionante que pareça- impregnado de poesia. Por mais que não pareça é poesia. A arte, enfim , nunca esteve com indigestão.
                            

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