nos falta vergonha na cara


publicado originalmente no DOM TOTAL. ( CLIQUE AQUI)
Por Ricardo Soares*
Noves fora as paixões políticas nacionais, o inesgotável embate entre azuis e vermelhos a sociedade brasileira virou, faz tempo, um coletivo tão egoísta e cruel quanto a sociedade americana e não apenas pelo nosso "orgulho" em ser colônia, em copiarmos o pior deles,  em sermos vassalos da eterna máxima de que "tudo que é bom para eles é bom para nós". Viramos egoístas e cruéis por "méritos" próprios na medida em que até governos identificados com a esquerda apostaram na estufa de criação de mais e mais consumidores e não de cidadãos.
A prioridade no Brasil desde sempre foi abrir estradas, construir grandes e caríssimas obras. Usinas, siderúrgicas, hidrelétricas. Sempre foi rasgar sertão adentro, sangrar e destruir as florestas para priorizar boi, soja, desenvolvimentismo antiquado e nada compatível com os dias atuais. Assim árvore é sinônimo de empecilho, sujeira, folhas mortas entopem bueiros , atravancam o progresso. Essa nossa lógica ilógica desde muito tempo.
Nós , seres humanos, é que inventamos a ideologia do "mercado". Não foi Jesus, Maomé ou Buda. E se nós fizemos não podemos reinventá-lo de uma forma mais gentil, menos predadora ? Por que sempre está em vigência a lógica do matar ou morrer, competir, chegar antes, aniquilar o concorrente, transformar as nações em eternas competidoras ? Seria mesmo uma utopia inviável uma colméia colaborativa mundial ?
Crônicas de final de ano tendem a balanços, apanhados gerais do que aconteceu no país e no mundo. Não vou entrar nessa senão contribuo para o desalento coletivo na medida em que 2017 no Brasil foi uma tragédia. Uma tragédia mais do que anunciada. Mas não é apenas por conta de nossa passividade  e resignação. É por conta de uma perversa lógica que nos envolve . Aquela do egoísmo superlativo onde o que vale é "primeiro eu, segundo eu, terceiro eu, sempre eu".  Assim sendo mesmo que não copiássemos o pior dos americanos estaríamos rifados da mesma forma. Infelizmente nossas apostas em relação ao futuro estão na contramão. Enquanto apostarmos apenas e tão somente no "deus mercado" no crescimento predatório , na deseducação e no egoísmo seremos sempre uma nação periférica a serviço dos grandalhões. Isso não é ideologia. Isso é falta de auto estima , de  vergonha na cara.
*Ricardo Soares é escritor, diretor de tv, roteirista e jornalista. Publicou 8 livros. O mais recente é "Amor de mãe" pela editora Patuá.

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