Anestesia de ano novo

Republicação da crônica do DOM TOTAL. (clique aqui)
Por Ricardo Soares*
E veio a  tal de  anestesia de ano novo quando passadas as "festas" a gente cai na real e vê que começaram os dias "úteis" e ficamos saudosos dos inúteis onde nos regozijamos com os próximos e mesmo com os distantes e onde renovamos votos de bem estar, felicidades, boas vibrações.
Prometi a mim mesmo que não faria a primeira crônica do ano de 2018 bordejando as marés do pessimismo ou da tristeza . Por isso mesmo que já tenha passado aquela sensação de  anestesia do ano novo - que entorpece as nossas dores- desejo a todos a  mais luminosa volta à nossa realidade . Força e fé pois vamos precisar muito.
Isso posto me debruço mais uma vez nas escadas da salvação que é a arte e vos desejo delírios e cores de Picasso, poesias à la cinema de Fellini, beleza e densidade como as de Brando ou Clarice Lispector , busca de novos horizontes criativos como os sonhados e revelados por Cortázar, Borges,Allen Ginsberg. Todos esses nomes não foram citados ao acaso pois fotos deles  então penduradas no mural de cortiça logo atrás do computador onde escrevo. Me fazem lembrar que todo dia que começa pode ser um dia possível para a arte num mundo quase impossível de viver.
Ignoro nesse momento se Paris é uma festa, se Londres, se envolve em neblina ou se Katmandu  não realiza sonhos de alpinistas. Do lado da feia cidade que me cerca  evoco as muitas cidades que me habitam e abro as portas de todas elas para as novas sensações que haverão de chegar pois estamos vivos. Às vezes nem tão dispostos mas vivos, segurando o ano novo como se segura um rabo de gato. Ele estrila mas haverá de entender que se assim o agarramos  é porque ainda nos aferramos mais a esperanças do que a miados.
* Ricardo Soares é diretor de tv, escritor, roteirista e jornalista. Escreve às segundas e quintas no DOM TOTAL.

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