crônica, humana crônica




Crônica, humana crônica

Não é porque o jornalismo pátrio está aos pedaços e nem porque dentro dele vivo o meu ocaso mas só outro dia me dei conta de que entrei na profissão pelas portas da crônica, gênero que pratico desde a adolescência. E na verdade- tirando um perfil de Paulo Vanzolini publicado pela extinta revista “Música” – os primeiros textos que publiquei na vida foram crônicas a começar aquelas que saíram no jornal “Metrô News” no distante ano de 1977.
No meu panteão pessoal dentro do gênero estão desde sempre Rubem Braga e Paulo Mendes Campos e tenho minhas sinceras dúvidas se a crônica – tal como a conhecemos e concebemos- é mesmo um artigo genuinamente nacional como muitos teóricos da literatura apregoam. Pelo sim, pelo não, sempre amei e pratiquei o gênero não querendo dizer com isso que as linhas que pratico são legíveis.
Escrevi centenas delas pra veículos muitos. Do já citado “Metrô News” aos jornais “O Estado de S.Paulo” , “Diario do Grande ABC” e o extinto “Jornal da Tarde” passando por revistas tão dispares como “Rolling Stone” e “Família Cristã” sem contar as dezenas de crônicas que fiz para a Tv Gazeta – nas aberturas de um telejornal chamado “Gazeta Paulista” nos idos dos anos 90 – e a Tv Cultura de São Paulo onde redigi também interprogramas. Atualmente tenho muita alegria ao publicar duas crônicas por semana no portal DOM TOTAL da Fundação Helder Câmara de Minas Gerais.
Ao expor aqui meu envolvimento assíduo e longevo com a crônica na verdade só tenho mesmo a intenção de ser grato ao gênero que se não me deu fama e fortuna mas me deu de comer muitas vezes. Como posso ser infeliz se vivi , também, com dinheirinho ganho por crônicas ? Não fiz nem fama nem fortuna com isso e creio, honestamente, que das minhas centenas de crônicas só meia dúzia são mesmo não perecíveis. Mas mesmo quando vejo tanta gente dizer que é cronista quando não é –confundindo crônica com artigos sobre atualidades- não me importo porque ao usarem o termo “crônica” para definir o que fazem acabam por ajudar a manter o gênero vivo. Eu poderia listar aqui mais uma dúzia de grandes cronistas além dos citados Paulo Mendes e Rubem Braga mas prefiro guardar um silêncio reverente ao festejando o gênero que muitas vezes nos mantém de pé como café forte pela manhã : crônica, humana crônica. Que tenha vida longa no Brasil dos combalidos.

Ricardo Soares, 25 de abril de 2018, Granja Viana

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