LULA, SÃO BERNARDO E A VARIANT AMARELA

    
       Foi em uma Variant amarela como essa que aprendi a dirigir. Ainda vejo meu pai entrando nela todos os dias no distante caminho entre a Vila Paulicéia, São Bernardo do Campo, até o bairro do Jaraguá, extremo oeste de Sp, onde ele trabalhava. Eu ia de carona  todos os dias quando ele me deixava antes das seis da manhã  na porta de um colégio onde eu estudava no Ipiranga. Os portões só abriam as sete e eu ali ficava matutando sobre a vida, com uma certa "dózinha" de mim mesmo. Talvez tenha começado a se gestar ali o escritor que acho que sou.
   Se não éramos pobres éramos mui remediados. Morávamos a duas ruas da fábrica da Mercedes Benz de onde meu pai havia sido demitido e agora se recolocava bem longe de casa. Profissional sem curso superior sustentava a família como supervisor de almoxarifado o que era possível com certo aperto em meados e fins dos anos 70. 
     Por essa ocasião vi Lula pela primeira vez a discursar na porta da Mercedes sobre um caixote de maçãs. Ele morava bem perto da gente naquela ocasião, fato que relembrei com o próprio ano passado num encontro em Teresina. Nunca julguei estar diante do futuro presidente da República quando o via defronte à Mercedes. Mas assim é a história. Muitas vezes desfila diante de nós sem nos darmos conta.
       Meu pai não tinha admiração pelo Lula pois creditava a ele o fato de ter sido demitido da Mercedes. Nunca apurei a fundo essa história mas meu pai ,inteligente porém pouco instruído, foi refém daquele velho discurso reaça do perigo do comunismo, etc, etc. Assim não me espantam os pobres de direita para mim muito mais frutos da desinformação que da má intenção.
         Tudo isso talvez seja uma tentativa quase poética de responder a alguns que me perguntam porque acreditei em PT , Lula e quejandos. Ora, superlativos erros a parte, com a minha origem, minha localização geográfica à época dos anos 70, os livrinhos que li e escrevi queriam que eu acreditasse no que ? No "juntos chegaremos lá" do esquecido Afif que seduziu meu pai com essa lorota ? Queriam que eu acreditasse em Collor, FHC e aquele perfumado discurso de pseudo - esquerda para agradar leitores da revista Piauí ?  Queriam que eu apoiasse a truculência mal disfarçada de um carola Alckmin, a demência megalomaníaca de um Ciro Gomes, o discurso positivista evangélico da fraude "divina" Marina ? 
        Em tese guardo agora  no porta-malas da velha Variant amarela as teorias anarquistas que me acalentaram a juventude. E se não declaro voto incondicional em Lula considero um absurdo histórico o tirarem dessa eleição. Eleição sem Lula é fraude. O horror que os ignorantes tem a ele é Freud. E não me venham com essa de "centro" conciliador a essa altura porque a balança fascista derruba todo seu ódio para o lado direito da força. Quero de novo o alento que me trazia aquela Variant amarela diante de um futuro que tínhamos pela frente.    
       



Comentários

Postagens mais visitadas