Aflições de um documentarista desalentado

   

Republicação da crônica do  DOM TOTAL. (CLIQUE AQUI)
   Só não andei mais por esse país do que candidato presidencial . E daí, depois de tanto andar, dei de resfolegar. E me vejo cansado , beirando os 60, vendo que pouco ou nada mudou para melhor. É uma “choração” de índios sem terras demarcadas, de índios desprovidos, de guarani-kaiowás suicidados. Um país onde direitos são leiloados, onde deveres são “terraplanados”. Pego a esmo o exemplo dos índios mas poderia pegar tantos outros nesse país continental onde quase nada muda para melhor.
    Só não andei mais pelo país que candidato presidencial mas me pergunto o que eles aprendem com tanta andança além de pedir votos? Se sensibilizam de fato com os moradores das taperas e dos igarapés, os deserdados das palafitas ou das favelas ?
   Não há mais limites para a hipocrisia e a gente desfia o rosário tentando ser otimista mas já não dá! Levantar, engolir um café doce num dos muitos hotéis que passei na vida e encarar aquele sol ardido do norte de Minas ou de Roraima vai ficando mais e mais difícil como entender, com desalento, que por mais que eu “denunciasse” mazelas em documentários que poucos viram nada mudava para melhor.
   Trabalhei tanto, retratei tanto mas não vi ninguém mexer uma palha por uma situação ruim que eu tenha documentado. O depoimento amargo de quem andou tanto por esse país imenso e pouco viu mudar não quer desestimular os mais jovens mas sim convidá-los a buscar outros caminhos para as soluções porque os meus , exaustivamente trilhados, deram num becão sinuoso na medida em que não vejo saídas nem para mim mesmo e minha sina de documentarista desalentado de um país que regride.

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