Depois de tudo o que aconteceu

Republicação da crônica do DOM TOTAL... (clique aqui)
     Vocês vão me desculpar de verdade a mão boba, o coração  leviano e as emoções baratas. E também vão desculpar toda sístole e diástole do tempo que enche e esvazia as nossas esperanças. Porque eu imaginei que depois de maio de 1968, da queimação dos sutiãs, dos panteras negras e do amor livre, da nossa hedionda ditadura militar de 1964  a 1985, imaginei que depois de JK e da Tropicália, dos "Novos Baianos" e da geração beat, depois de Jim Morrison, Doors, Rolling Stones, Beatles e Led Zeppelin, depois dos festivais da Record e do Pink Floyd, do chiclete com banana e do Arrigo Barnabé, depois do José Agripino de Paula e do Itamar Assumpção, depois do cinema da Boca do Lixo, do Sganzerla e do Person, do Glauber e do Nelson Pereira dos Santos, depois dos inegáveis avanços , das dunas do barato, da Leila Diniz e do Tim Maia, depois do Bandido da Luz Vermelha e  do Adoniran Barbosa, depois do Darcy Ribeiro e dos Cieps, depois de Paulo Freire , da demarcação ainda que tardia de muitas reservas indígenas, depois do reforço do estado laico  e do Fellini, depois da Clarice Lispector e do Gilberto Gil  ministro da Cultura, depois de Picasso, Dali e Jorge Luis Borges depois de Garcia Marquez e Cortázar, depois de Jorge Amado e do Érico Veríssimo nós tivéssemos aprendido a lidar com o tempo e com o vento da adversidade.
Depois de tudo isso eu imaginei que o planeta e que o meu país fosse mergulhar pra sempre numa curva ascendente evolutiva , nós todos peregrinos subindo um Everest de delícias terrenas em busca de paz, amor, açúcar, afeto , doces prediletos, solidariedade, humanismo , justiça social.
Vocês vão me desculpar de verdade mas não tenho capacidade de entender nada do que está acontecendo,essa tsunami de lama negra que varre uma parte considerável da Europa , passa pelos Estados Unidos e entra Brasil adentro como se nada do que citei acima tivesse  acontecido e vivido por diferentes e recentes gerações.
Vocês vão me desculpar mas não entendo como fomos descer tão baixo, tão rasteiro, como a ignorância gangrenou todos os nossos tecidos de tolerância , como esquecemos tão rápido da Abbey  Road ou das prosas ao redor de fogueiras, dos luaus de Saquarema ou das seios nus de Trindade, das areias de Canoa Quebrada e de Arembepe , do pôr de sol de Jericoacoara, de Woodstock e dos festivais de Águas Claras,dos grupos "Asdrubal trouxe o trombone" , "Nuvem Cigana", dos cineclubes e dos espaços alternativos de Rio, São Paulo , Brasília, Salvador, Fortaleza, Belo Horizonte. Dos clubes de muitas esquinas e dos sonhos de moços e moças uivando para luas enormes sem medo do que o futuro reservava.
O futuro chegou. Vocês vão me desculpar mas sei que ele chegou e me pegou de frente e de mal jeito. Fiquei impactado pois sei que ele não será estático e vai nos tirar do limbo depois de tudo o que citei ter acontecido. Mas, perdão senhores e senhoras, agora só consigo ver o mal , a iniquidade, o desprezo que tem pela humanidade os corações de tantos bandidos que estão nesse momento roubando os nossos futuros.Tempos duros onde não devemos largar as mãos que nos alcançam. Que a brisa de novos mares nos balançam.

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