Farol Santander, que lugar horrível
Sim,o título do post é chamativo de propósito mas também sincero.Na quarta-feira de cinzas fui a um local que todo paulistano de nascença deveria colocar o pé uma vez na vida.O antigo edifício Altino Arantes, conhecido como o prédio do Banespa, e que agora se chama "Farol Santander" obedecendo à lógica idiota do capitalismo raiz que é rebatizar qualquer espaço que a "iniciativa" privada adquire do poder público. Esse "farol" foi inaugurado há pouco mais de um ano no 25 de janeiro de 2018 , como parte das comemorações do aniversário de São Paulo. Está aberto para visitas cheias de restrições a extorsivos 20 reais por cabeça .
Não espere que o preço salgado se converta em cortesia dos funcionários que "atendem" a atração caretésima sob todos os pontos de vista. A reforma e restauração do edifício começou a ser planejada pela diretoria do Santander dois anos antes da inauguração e o vice-presidente de marketing e comunicação do grupo, Marcos Madureira,( não sei se ainda é) disse faz ano e pouco que aquele "era um presente de aniversário para a cidade. Queremos que seja uma referência no Centro da cidade, é um mix de cultura, entretenimento e lazer. Queremos incentivar a retomada do crescimento do centro de São Paulo", disse o Madureira repetindo surrados chavões corporativos.
Na verdade o que Madureira pretendia em nada cumpre o farol que nada ilumina. Nem a cultura, nem o entretenimento e nem o lazer. É um mix tosco de celebração à fantasmagoria de defuntos banqueiros e bancários e um raio x de como eles veem a sociedade. Restrições, restrições, restrições... a saber...fila longa pra comprar o ingresso de 20 pilas. Mais fila pra pegar o elevador onde a ascensorista praticamente imperativa "sugere" que se comece a visita nos andares inferiores e se vá subindo o que é uma tolice visto que a atração menos soporífera do local e que desperta mais curiosidade é o tal mirante -café que fica no 26 º andar. Então venha descendo que a sua decepção desce junto. O mirante não faz 360 graus. Tem ângulos questionáveis mas, vá lá, revela muito da feiura do nosso centro velho. O melhor é a vista do prédio vizinho, o edifício Martinelli. Aí você vai tentar tomar um cafezinho no tal Suplicy (caríssimo, para se ter ideia uma água pequetita a 5,50 ) pra desfrutar um pouco mais da vista. Mas esbarra em um funcionário afetadésimo que segura as pessoas com uma faixa de contenção vermelhinha a pretexto de que a lotação está completa quando por contato visual você vê pelo menos seis mesas vazias no mezanino acima. Aí você vai descendo, tropeça em exposições irrelevantes, (se não pelos artistas mas pela maneira como as obras são apresentadas- expostas) não vai conseguir ver a tal pista de skate de Bob Burnquist (já fechada pra reformas ) até dar com vários andares que contam a memória do Banespa com fotos e pinturas horrendas de presidentes já mortos e a reconstrução fantasmagórica do cotidiano bancário com sons lúgubres do tédio que deveria ser a rotina do lugar e faria inveja ao imaginário de Kafka. Astral pesado.
Por fim vem o "bônus track" : nem pense em querer descer os 26 andares pelas escadas. Há restrições por motivos que os funcionários monossilábicos e robotizados não sabem explicar além do ridículo "são as regras". O mais bizarro é você chegar ao alto do hall do segundo andar e não poder descer a pé porque são "as tais regras". Você vê a saída para a rua João Brícola (a essa altura você já estará louco pra cair fora) mas não pode descer porque não tem catraca de saída e o banco quer ter o controle das visitas segundo me explica uma funcionária (mais uma) antipática. Como se o controle não tivesse sido feito na entrada. O que será que eles pensam ? que alguém vá querer ficar se escondendo naquela masmorra ? Ah, sim, faltou falar do tal bar do cofre que fica no subsolo e dizem ser bonito mas não pude conhecer porque fazendo jus ao farol das restrições o bar só abre de quinta a sábado num horário ridículo. Conclusão : não perca seu tempo com esse farol. Deixei de subir nesse prédio histórico na minha infância, adiei na minha adolescência e vida adulta deixando inclusive de visitar lugares hoje restritos como a torre de vidro do topo onde fica a bandeira. Azar o meu. Na boquinha da terceira idade lhes digo. Não deixe de perder a atração. O farol Santander não contribui pra um sonho feliz de cidade.
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